Poucos lugares no mundo despertam tanta curiosidade quanto a Ilha de Páscoa. Localizada no meio do Oceano Pacífico, essa pequena porção de terra — oficialmente pertencente ao Chile — segue cativando pesquisadores e visitantes com seus monumentos enigmáticos, lendas de navegações épicas e vestígios de uma civilização que deixou perguntas sem resposta.
Com uma distância de mais de 3.500 km da costa chilena e a mais de 2.000 km do assentamento habitado mais próximo, a Ilha de Páscoa é, literalmente, uma das regiões mais remotas do globo. O Aeroporto Internacional de Mataveri, único acesso aéreo regular ao local, opera voos vindos de Santiago — são quase cinco horas sobre o oceano até alcançar esse pedaço de terra cercado de segredos.
Os primeiros habitantes chegaram à ilha por volta do ano 1200 d.C., após longas travessias marítimas feitas em embarcações rudimentares, provavelmente vindas de Mangareva ou das Ilhas Marquesas. Em 1999, uma réplica de um barco polinésio da época comprovou a possibilidade da jornada: a expedição, conduzida com técnicas ancestrais, levou 17 dias para percorrer o trajeto.
O nome tradicional do local, “Rapa Nui”, surgiu apenas no século XIX, quando nativos escravizados perceberam a semelhança da ilha com outra região da Polinésia Francesa chamada Rapa. Já o título “Ilha de Páscoa” foi dado pelo navegador holandês Jacob Roggeveen, que desembarcou ali justamente num domingo de Páscoa, em 1722.
Entre os maiores mistérios da ilha está o rongorongo, um sistema de escrita descoberto por europeus em meados do século XIX. Apesar de algumas tentativas de decifração, o código permanece um enigma. Segundo relatos da época, poucos nativos sabiam interpretá-lo, e a tradição oral indicava que seu domínio era reservado à elite religiosa — que foi dizimada por doenças e pela escravidão.
Os gigantes moai são os ícones máximos da ilha. Esculpidas entre os séculos XII e XVII, essas figuras de pedra chegam a medir mais de 10 metros de altura. Lendas locais afirmam que os moai se deslocaram sozinhos até suas posições finais — o que, para os estudiosos, pode indicar uma técnica sofisticada de transporte com cordas, que simulava movimentos de balanço.
Atualmente, cerca de 50 dessas estátuas foram restauradas e reerguidas, mantendo viva a memória dos antigos líderes e ancestrais que teriam sido homenageados por meio dessas obras.
Outro capítulo curioso da história rapanui é o culto ao homem-pássaro, figura sagrada que representava a transferência do poder espiritual da linhagem dos líderes ancestrais para um novo escolhido anual. A seleção era feita por meio de uma arriscada prova de resistência: nadar até a ilha de Moto Nui, capturar o primeiro ovo de uma ave marinha e retornar escalando penhascos íngremes. O vencedor ganhava prestígio e poder por um ano. A prática foi encerrada em 1888.
Hoje, a Ilha de Páscoa segue como um museu a céu aberto. Um território onde as marcas do passado ainda sussurram histórias que desafiam o tempo — e a ciência.