Beber água não é apenas saudável — é essencial. O corpo humano precisa manter níveis adequados de hidratação para funcionar corretamente, e uma pessoa comum consegue sobreviver, no máximo, de três a cinco dias sem repor líquidos. Mas, afinal, quanta água é realmente necessária?
Sentimos informar, mas ninguém pode afirmar um número exato. A famosa recomendação de que é preciso beber dois litros de água por dia não passa de um mito sem respaldo científico.
Ainda assim, o mito persiste. É repetido com facilidade em mensagens vagas sobre saúde, muitas vezes divulgadas por pessoas ou instituições alheias às evidências científicas — que apenas reproduzem, como um eco, o mesmo mantra que ouviram ou leram em outro lugar.
Se a água é saudável e indispensável, qual seria o problema de recomendar, ao menos, dois litros por dia? Para começar, essa ideia costuma ser usada para vender produtos ou desviar a atenção de temas realmente relevantes.
Empresas e organizações que aparentam se preocupar com nossa saúde, na verdade, demonstram estar ultrapassadas — sem interesse algum em se atualizar ou divulgar informações com base em conhecimento de fato.
Em outras palavras, se você ler ou ouvir a frase “é preciso beber dois litros de água por dia”, desconfie. Pense com calma: se cada pessoa tem necessidades nutricionais diferentes, por que todos precisariam da mesma quantidade exata de água?
Afinal, quanta água devemos beber por dia?
Uma dúvida volta à tona: se a hidratação é tão essencial, como saber a quantidade certa de água para consumir diariamente? Como já mencionado no início, a resposta não é simples — e tampouco pode ser reduzida a um número fixo.
O especialista em ciência dos alimentos Miguel Ángel Lurueña resume bem a questão: “Nossas necessidades variam muito de acordo com diversos fatores, como a temperatura ambiente, o tipo de trabalho que realizamos, os alimentos que ingerimos”. Ou seja, em condições normais, devemos beber água guiados principalmente pela sede.
A natureza é sábia — e nos deu mecanismos eficientes para avisar quando o organismo precisa de algo específico. Sentir sono, fome ou sede são respostas naturais a um desequilíbrio interno. No caso da sede, a função é clara: estimular a ingestão de líquidos para evitar a desidratação.
Esse impulso é regulado por mecanismos fisiológicos bastante complexos, que envolvem desde o volume de sangue até processos celulares. Mas, no dia a dia, o que realmente importa é a mensagem simples: se estou com sede, preciso me hidratar.
O que é melhor: exagerar ou ficar aquém?
O excesso é prejudicial, inclusive no consumo de água. Embora raro, é possível beber água em excesso — a ponto de causar danos à saúde.
A hiperidratação costuma ser um efeito secundário de algum outro transtorno ou doença, pois normalmente o corpo consegue filtrar e eliminar o excesso sem problemas. Pode ocorrer em atletas excessivamente preocupados em evitar a desidratação ou em algumas condições psiquiátricas. Em situações extremas, o excesso de água pode diluir o sódio no sangue, causando hiponatremia, que pode ter consequências graves.
Porém, o maior risco da recomendação fixa de beber dois litros diários está nos efeitos psicológicos: cria-se uma obsessão sem sentido, fazendo acreditar que a água tem poderes quase mágicos. Beber além da sede não elimina mais toxinas nem ajuda a emagrecer; apenas proporciona uma sensação passageira de saciedade.
Ficar aquém do necessário é muito mais perigoso. Mas, em condições normais e para pessoas saudáveis, é difícil que a falta de hidratação cause problemas sérios ou sintomas evidentes de desidratação. Atualmente, a maioria das pessoas leva uma vida mais sedentária e repõe líquidos constantemente ao longo do dia, tanto com alimentos quanto com outras bebidas.
E, embora existam outros líquidos mais eficazes para hidratar o corpo em situações de calor extremo — como o leite desnatado —, a água da torneira continua sendo a bebida mais saudável para o consumo diário. Além de ser a mais barata e sustentável.