Codex Gigas significa literalmente 'Livro Gigante', e o nome não é exagero. O manuscrito mede quase 90 centímetros de altura e pesa cerca de 75 quilos. São 620 páginas de pergaminho feitas, segundo estimativas, com a pele de até 160 burros e bezerros. Dá pra imaginar o trabalho?
Produzido por volta do século XIII, o livro reúne de tudo um pouco: o Antigo e o Novo Testamento da Bíblia católica, uma enciclopédia de Isidoro de Sevilha, tratados médicos, fórmulas mágicas e até a Crônica dos Boêmios, escrita por Cosme de Praga. É praticamente um Google medieval, só que manuscrito.
Hoje, o 'livro gigante' está guardado sob clima controlado na Biblioteca Nacional da Suécia, em Estocolmo. E não é exagero dizer que ainda causa arrepios em quem o visita.
A lenda do monge e o pacto com o diabo
O apelido 'Bíblia do Diabo' veio de uma história tão famosa quanto sombria. Diz a lenda que um monge beneditino, condenado por quebrar seus votos, prometeu criar o maior livro do mundo para se redimir. Mas percebeu que era impossível terminar tudo em uma noite. Desesperado, teria feito um pacto com Lúcifer para completar a obra.
O resultado? Um manuscrito colossal e uma página com uma ilustração de quase 50 centímetros do próprio diabo. Coincidência ou contrato infernal? É claro que a história se espalhou pelos mosteiros da Europa, e o Codex ganhou fama de amaldiçoado.
Mas o que a ciência diz?
Calma, não precisa chamar o exorcista. Estudos modernos mostram que a obra foi escrita, sim, por uma única pessoa, identificada no próprio livro como 'Herman, o Recluso', mas ao longo de 20 a 30 anos. Pesquisas paleográficas (que estudam escrita antiga) revelam uma caligrafia uniforme e o uso de apenas um tipo de tinta, o que descarta o “pacto noturno” e explica o feito monumental como pura dedicação monástica.
Mesmo assim… não dá pra negar que o visual da página demoníaca dá um certo desconforto, né?
Um livro que sobreviveu a incêndios e guerras
Ao longo dos séculos, o Codex Gigas passou por mãos poderosas. No século XVI, integrou a coleção do imperador Rodolfo II, um apaixonado por alquimia e ocultismo. Durante a Guerra dos Trinta Anos, o livro foi levado como espólio para a Suécia e acabou nas coleções reais.
Em 1697, ele sobreviveu a um incêndio devastador no Castelo das Coroas, em Estocolmo e essa parte parece cena de filme: para salvá-lo das chamas, alguém o arremessou pela janela. O livro se salvou, mas feriu um transeunte. E claro, isso só reforçou a ideia de que era amaldiçoado. Vai explicar…
Do inferno ao digital
Hoje, qualquer pessoa pode explorar o Codex Gigas digitalizado no site da Biblioteca Nacional da Suécia. Dá pra ver cada detalhe da caligrafia e da ilustração demoníaca sem precisar estar a poucos centímetros do 'diabo em pergaminho'.
A obra é mantida em ambiente controlado de temperatura e luz, o que ajuda a preservar um dos manuscritos mais preciosos (e pesados) da história. E mesmo com todas as explicações racionais, a aura de mistério continua firme e forte.