Os recentes casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas reacenderam o debate sobre a fragilidade do sistema nacional de fiscalização de alimentos e bebidas. Para o ex-ministro extraordinário do Combate à Fome e Segurança Alimentar, José Graziano, o episódio traz lições importantes também para a indústria alimentícia.
'As formas de falsificação estão aumentando e nós continuamos com as formas tradicionais de fiscalização. Agora estamos assustados com o metanol, mas e a quantidade de agrotóxicos que ingerimos nos alimentos? Essa é uma atenção que tem sido negligenciada. Só quando há uma crise é que corremos atrás do prejuízo', afirmou, em entrevista ao programa Conversa Bem-Viver pela 98.9 FM na Grande São Paulo.
Graziano, que também foi diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), comentou ainda sobre a recente saída do Brasil do Mapa da Fome da ONU, pela segunda vez. Apesar do avanço, o ex-ministro alerta que o país ainda tem muito a melhorar.
'Temos cerca de 18 indicadores. O Brasil zerou um deles, mas não cumpriu a maioria dos outros 17. Não estamos no paraíso. Hoje, menos de 2,5% da população está subalimentada, mas, considerando que somos mais de 200 milhões de habitantes, ainda é um número expressivo', destacou.
Segundo ele, outro ponto crítico é a liberdade de comercialização dos produtos ultraprocessados, que contribuem para o aumento das doenças crônicas e da má alimentação.
'Produtos ultraprocessados são vendidos livremente no Brasil, sem nenhum controle, sem imposto adicional. Precisamos rever essa lógica se quisermos garantir de fato a segurança alimentar', concluiu.