Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

 

ENTREVISTA HISTÓRICA com TANIA DINIZ – Belo Horizonte, MG. (EM MEMÓRIA) - 23 de DEZEMBRO de 2009.

Graduada em Letras pela UFMG. Poeta, contista, haicaísta, editora, artista plástica por hobby, promotora cultural, professora de idiomas, editora-idealizadora do mural poético Mulheres Emergenπes, em 1989, publicação trimestral de circulação internacional que enfatiza o feminino (autores novos ao lado dos conhecidos) e onde realizou 04 Concursos Internacionais de Poesia com excelente acolhida do público.
Livros :
Contos: O Mágico de Nós (1988 / 2ª ed., 1989), Rituais (1997).
Poemas: Mulher EmBalada (1992), Bashô em Nós (coautoria/ 1996), Relato de Viagem à Marmelada (1997), Flor do Quiabo (2001), entre outros.
Em 1998 é secretária, tradutora e intérprete na I Bienal Internacional de Poesia de BH, a convite da Secretaria de Cultura de MG.
Trabalhos publicados em diversas antologias, revistas e jornais nacionais e alguns estrangeiros.
Diversos trabalhos premiados em concursos literários no país e exterior.

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
TANIA DINIZ - Sou professora de idiomas, já trabalhei com o português, italiano, e atualmente tenho alguns alunos de francês e , em especial, espanhol.
Sou editora, além do Mulheres Emergentes, publico livros de autores novos ou não, com preços módicos, rs.E sucesso, diga-se de passagem. Os dois últimos na verdade, foram em comemoração ao aniversário do ME, 18 e 20 anos, foram resenhados na Europa.
Às vezes me apresento com meu grupo poético, Cia. Poética Estação Platina, em eventos e espaços culturais.
Sou mãe, esposa, dona-de-casa e também atuo em alguns projetos sociais, como o Projeto Portal.
Adoro inventar sonhos e realiza-los, ano passado organizei a I Mostra Mineira de Haicai ME, em homenagem ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil e aos 19 anos do ME. O sucesso foi tanto que se torno itinerante e tem visitados os espaços culturais aqui em BH, por enquanto, rs...

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário ?
TANIA DINIZ - Desde que aprendi a ler, aos 6/7 anos, nunca mais parei, e acho que, acabar escrevendo foi um processo natural, depois de misturar ao aprendizado do meu curso de Letras.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País ?
TANIA DINIZ - Fora do país não sei se chegarei a ter algo individual publicado um dia. Apenas participo de algumas antologias , por premiação, e de algumas revistas e jornais, virtuais e impressos. Por exemplo, na França, Portugal, Espanha,Itália, Argentina, Colômbia, USA, Áustria, Rep.Tcheca, Canadá,etc. No Brasil, tenho livros de contos, dos quais o de estreia , com duas edições, foi O MÁGICO DE NÓS, alguns pacotes poéticos e inúmeras Antologias.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura ?
TANIA DINIZ - Tudo, sabe.
Ás vezes, um sonho, ao dormir...outras, um desejo, realizado ou não, uma cena vista, uma foto, um riso...ou uma dor.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira ?
TANIA DINIZ - Não sei dizer de autores que mais admiro porque são muitos, entre poesia, contos, romances . Como gosto muito do realismo mágico, sempre me lembro de Garcia Marques, Isabel Allende,Cortazar, Borges, Murilo Rubião...

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?
TANIA DINIZ - Aos novos, eu diria de terem persistência, estudar sempre, acreditar em si e no seu sonho, e ir atrás. Traçar seus objetivos e buscar os melhores meios de realiza-los, sem se deixar abater pelas inerentes dificuldades, filtrando as críticas, aproveitando que trazem de bom e buscando se aperfeiçoar, sem dó de si mesmo, rs.

fogo-pagô fogo-pagô
rolinha rolando a tarde
noite chegou
***
na nuvem branca
alvo risco de fumaça.
avião que passa.
***
Brisa inusitada!
Entre céu e mar azuis
borboleta amarela.
***
pintassilgo!
o céu pinta consigo
a cor da manhã
***
- O sol da tarde
o boi invade,
guia a boiada.
E a vacaria
anuncia a noite
na ave-maria.
***
Mais te amava
sem saber que me deixavas.
Rompeu-me a alma em sustos.
( Até tu, Brutus?!)
***
Amou-me como um deus
amei-o como louca.
Paixão barroca !
***
Penélope

Espero.
Tal Penélope
teço a teia
de suspiro e saudade
em ponto meia.
Às noites de lua
entremeio
fios de paixão
brilhos de prazer
bordados em canção
eu, toda nua,
vestindo tua mão.
Pronto o manto
envolvo de encanto
loucos sonhos na cama,
a trama de quem ama.
Tal Penélope
na noite sem lua
sem teus passos na rua
desmancho, desfaço,
meus pontos, teu laço.
A solidão, não meço.
Amanhã, recomeço.
***
Reinos

Ter
formas de maçã
A surpresa
de textura e cor
da romã
Do caju,
sumarenta carnadura
Da goiaba de vez,
o frescor
Então,
apetitosa e nua
a fome acesa
em tua mesa,
ver, talvez,
o emergente calor
da tua carne dura.
***
Pintura

Me faço
Traço
Nanquim
na tua tela
Ponto, elipse,
Paralela
Me disfarço
Esfera
no trapézio
do papel
Danço
losango absurdo
na horizontal
triângulo essencial
ao teu pincel
Me dissolvo
Caravela caravela
em águas
de aquarela.
***
Equilibrista

A malha colante no corpo esguio era azul celeste. A corda de prata, bem esticada, bem no alto de uma torre à outra, dava um ligeiro risco no céu.
Pé ante pé, como bailarino das estrelas, ele caminhava na vida por um fio. Os braços fortes levando a longa haste-da-fé como diáfanas asas que o faziam pairar ali.
E no ondular suave da corda, no vai e vem, de repente, um balanço inesperado - o povo aqui embaixo, narizes levantados, suspirou um contido OH! - ele estremeceu forte. E, meio desequilibrado, caiu em si.
***
Apenas

Emergindo da nuvem de magia que os envolvera, coração acalmado, mas ainda tonta de prazer, ela se foi.
Ele, ao despertar, não conseguia acreditar. E procurando uma prova no lençol, encontrou apenas um pêlo em sua garganta.
***
Vodu

A pele negra brilhava, suave convite ao amor. Olhos firmes, seios altos, boca larga, Os anéis do cabelo em riste, orgulho da cor, semeado de contas. O púbis altivo, cheiro e sabor.
Desejou-a tanto, na dança que, ao imaginá-la sua, fremente na lança, foi poderoso. E ela, ao longe, como enfeitiçada, sentiu-se trespassada por tanta paixão e, em pleno pátio da tribo, agonizou no chão.
***
Lavoura (musicado por arlindo maciel)

Lavrador experiente, mãos calejadas, olhar agudo, lábios ressecados pelo clima. Da enxada, o duro cabo.
Todos os dias, ao som de violas e cheiro de mato, em cada aurora, semeava sonhos ali, onde a cada poente arava estrelas no corpo dela.
***
Joia

Abriu a caixinha de jóias e tirou a lua cheia.
O quarto, crescente de luz, clareou tanto que as paredes se tornaram transparentes como cristal e ela se assustou. Prendeu logo a lua no cordão de ouro do pescoço e foi namorar. Toda iluminada.
***
Exótico

Ele gostava de deixar entre as páginas de seus livros e cadernos pequenas flores, folhas diferentes e até insetos que, desidratados pelo tempo, tornavam-se exóticas lembranças coloridas.
Atormentado pela saudade do amor desfeito, pegou a imagem dela em seu coração e colocou-a entre as folhas de seu missal poético.
Tempos mais tarde, ao reler seu poema predileto, virou a página e descobriu-a. Uma imagem sulcada por finas rugas, amarelada na poeira do tempo e que, apenas, exalou um perfume sutil como um suspiro de anjo.
Era uma lembrança desidratada pela dor de se sobreviver à ela.
***
Requinte

Sentia-se inspirado esta noite. Aprontou-se com apuro. O espelho devolveu-lhe a imagem perfeita em black-tie. Com um sorriso sensual, passou a mão pelos cabelos e, cantarolando, desceu as escadarias.
O imenso salão do castelo estava primorosamente arranjado, com flores e velas entre fugazes cortinas e espessos tapetes. A grande mesa ao centro, bem preparada.
Deixou a rubra taça sobre o aparador. Um gole lhe bastava.
Sentou-se no único lugar, a ele destinado, bem em frente à imensa salva de prata ao centro da mesa. E, ajeitando o guardanapo de linho branco, com elegante gesto, destampou-a.
Delicioso aroma flamejou-lhe as narinas. Maravilhou-se com o refinamento do cardápio. Entre perfeitas cerejas, cachos de uva, alguns dourados pêssegos afundados em ninhos de fios de ovos e salpicados fígados de pombos, estava a mais delicada iguaria que já lhe fora servida: esplêndida mulher jazia em repouso, apenas coberta a pele de marfim por seus cabelos de ébano.
Educadamente, secou os lábios de vinho e iniciou o ritual do banquete.
Com sábias mãos, percorreu o macio corpo, sentindo que seu calor atingia, assim, quase a elevada temperatura desejável. Envolveu os seios com mãos conhecedoras. Não resistiu, fugiu a todas as regras de etiqueta: provou-os com leves mordidas. E como a carnuda boca o tentasse também, lambeu-a e explorou-a por dentro.
Ao discreto pigarrear do mordomo que entrava, caiu em si. E, de faces coradas pelo deslize, ou talvez, pelo apetite, com finos gestos, tomou dos talheres de prata.
Abriu-lhe delicadamente o peito e devorou-lhe o coração, com tanta elegância que, sequer um pingo de sangue lhe comprometeu a bem aparada barba azul.

 

Direito ao esquecimento
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