O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu deixar o encontro antes do previsto para tratar da situação. Ele pediu que o Conselho de Segurança Nacional esteja reunido na Sala de Crise assim que ele retornar a Washington. O anúncio foi feito pela porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, através de uma publicação no X e confirmado pelo presidente americano em uma coletiva de imprensa realizada no final da noite desta segunda-feira (16).
Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York A crise no Oriente Médio dominou os debates no primeiro dia da cúpula do G7, que acontece no Canadá, tornando-se o principal tema entre os líderes mundiais. O conflito entre Irã e Israel, intensificado desde sexta-feira, gerou preocupações sobre uma possível escalada militar. Em meio à crescente especulação sobre um envolvimento direto dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump afirmou que seu retorno antecipado da cúpula "não tinha nada a ver com um cessar-fogo" entre Israel e o Irã — contrariando declarações do presidente francês, Emmanuel Macron.
Em sua rede social, Trump acusou Macron de "interpretar mal" suas intenções e disse não entender por que o francês teria feito tal afirmação. "Intencionalmente ou não, Emmanuel nunca entende nada", criticou o republicano. Pouco antes de deixar a cúpula do G7, o presidente Donald Trump explicou que precisou sair mais cedo para voltar rapidamente a Washington devido à situação no Oriente Médio. Ele agradeceu aos anfitriões e afirmou que teve uma ótima relação com os demais líderes presentes.
Trump disse ainda que o Conselho de Segurança Nacional foi orientado a se manter em alerta para acompanhar os desdobramentos, mas lamentou não poder ficar para as discussões desta terça-feira. Trump se recusou a assinar a declaração conjunta do G7 pedindo a redução das tensões e voltou a afirmar que está determinado a impedir que o Irã obtenha armas nucleares. Em sua rede social, chegou a alertar que os moradores de Teerã deveriam evacuar a cidade "imediatamente", sem dar detalhes.
A expectativa agora é de que o G7 divulgue um posicionamento conjunto nas próximas horas, mas a unidade do grupo em torno do tema ainda é incerta. O conflito entre Irã e Israel se intensificou de forma dramática desde sexta-feira passada, quando ataques cruzados levaram a uma escalada de violência que já resultou em centenas de mortes e amplia a tensão geopolítica na região. O episódio ofuscou a agenda inicial da cúpula do G7 — formada pelas maiores economias do mundo — que ocorria no Canadá com foco em temas como economia global, comércio e segurança climática.
Divergências no G7 em meio à crise A saída antecipada de Trump também escancarou divergências dentro do grupo. Enquanto o G7 prepara um comunicado conjunto pedindo a redução das tensões e o diálogo, Trump se recusou a endossar a declaração, mantendo uma postura mais dura contra o Irã. A Casa Branca afirmou que o presidente está determinado a impedir que o regime iraniano tenha acesso a armas nucleares, em consonância com sua política de "máxima pressão" contra Teerã.
Na sua rede social, Trump fez um alerta incomum, pedindo que os moradores da capital iraniana, Teerã, evacuem a cidade imediatamente, sem oferecer explicações detalhadas, aumentando ainda mais a apreensão internacional. Especialistas interpretam a mensagem como um sinal de que Washington avalia possíveis ações mais incisivas contra o Irã. Esse posicionamento isolado de Trump gerou questionamentos sobre a capacidade do G7 em apresentar uma frente unida diante da crise, o que pode dificultar esforços diplomáticos coordenados para evitar uma guerra de maiores proporções.
A agenda econômica e comercial do G7 e o acordo com o Reino Unido Antes de partir do Canadá, Trump celebrou avanços comerciais, assinando um acordo bilateral com o primeiro-ministro britânico Keir Starmer. O pacto prevê a redução de tarifas em setores estratégicos, como o automotivo e aeroespacial, mas mantém a taxa de 25% sobre o aço britânico exportado aos Estados Unidos — um ponto sensível que ainda gera debates entre os dois países. "Acabamos de assinar, está feito", declarou Trump aos jornalistas, acompanhado de Starmer, que classificou o dia como positivo para ambas as economias, destacando os benefícios para o setor industrial. Durante a coletiva, Trump protagonizou um momento descontraído ao tentar mostrar o documento à imprensa e derrubar algumas páginas no chão, o que arrancou risadas e aliviou um pouco a tensão provocada pela crise internacional.
Ainda assim, ressaltou o impacto positivo do acordo: "Esse acordo vai gerar empregos, renda — e muitos outros estão a caminho. O entusiasmo é grande, e o relacionamento com o Reino Unido é excelente." Encontro com Ursula von der Leyen e as negociações EUA-União Europeia Outro ponto relevante da cúpula foi a reunião entre Trump e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O encontro, realizado a pedido da líder europeia, abordou questões cruciais como a guerra na Ucrânia e os avanços nas negociações comerciais entre Washington e Bruxelas.
Após a reunião, von der Leyen compartilhou uma foto ao lado de Trump nas redes sociais, destacando a importância de acelerar as negociações para fechar um acordo "bom e justo" entre as partes. "Vamos fazer acontecer", afirmou a presidente da Comissão Europeia. A expectativa é que as conversas possam desbloquear tarifas e barreiras comerciais pendentes, fortalecendo uma das relações econômicas mais importantes do mundo em um momento de crescente incerteza global.
A polêmica proposta de reintegração da Rússia ao G7 No discurso de abertura da cúpula, Trump lançou uma proposta que surpreendeu muitos analistas: a reintegração da Rússia ao grupo, que deixou de fazer parte em 2014 após a anexação da Crimeia. Além disso, ele sugeriu que até mesmo a China poderia ser incluída. Segundo o presidente americano, a exclusão de Moscou foi um "erro muito grave" e teria contribuído para a escalada do conflito na Ucrânia. "O G7 costumava ser o G8. Barack Obama e uma pessoa chamada Trudeau não quiseram a Rússia no grupo", afirmou, numa referência imprecisa ao então primeiro-ministro canadense — que na época era Stephen Harper.
A declaração de Trump, que contrasta com a tradição do G7 de reunir apenas democracias consolidadas, gerou críticas de aliados europeus e aumentou a complexidade da reunião, especialmente às vésperas do encontro que ele teria com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, para discutir alternativas de paz para o conflito que já dura mais de dois anos.