Distrito de Porto Velho, em Rondônia, Abunã é passagem obrigatória para quem segue rumo ao Acre ou ao Peru pela Rodovia Transoceânica (BR-364). Localizado nas proximidades da antiga estação ferroviária, no Km 220 da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), o distrito ocupa posição estratégica no mapa regional e carrega um patrimônio histórico diretamente ligado ao ciclo da borracha e à integração da Amazônia ao restante do país.

Durante recente viagem de vistoria realizada pela Associação dos Ferroviários da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o presidente da entidade, George Telles, registrou o que ainda resiste do acervo histórico local. As imagens e relatos revelam um cenário de abandono, mas também de resistência simbólica: mesmo em condições precárias de conservação, uma antiga locomotiva segue exposta em uma praça às margens da BR-364. O equipamento é uma das poucas lembranças visíveis do período áureo da borracha, quando a ferrovia teve papel fundamental no escoamento da produção e na ocupação da região.

Outro símbolo importante da memória de Abunã, no entanto, encontra-se em situação ainda mais crítica. O Obelisco de Abunã, monumento erguido para celebrar o Centenário da Independência do Brasil, foi arrancado de sua base e permanece caído. Localizado originalmente na área da antiga estação da EFMM, o obelisco servia como marco histórico e elemento de identidade local, embora seja menos conhecido do que outros monumentos similares espalhados pelo estado de Rondônia.

A destruição e o abandono desses símbolos revelam a fragilidade da política de preservação do patrimônio histórico em áreas periféricas da Amazônia. Para pesquisadores, ferroviários e moradores, Abunã representa mais do que um ponto de passagem: é um espaço de memória que ajuda a contar a história da integração nacional, do trabalho ferroviário e do impacto do ciclo da borracha na formação de Rondônia.
