A seguir, alguns exemplos de posts publicados dentro dessa lógica, nos marcos da cobertura eleitoral das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis:
Os principais agressores no X
Os usuários do X que mais utilizaram tags e termos de ataque à imprensa no período foram @lfsdogogo, @cesarcascos, @marco_cfn, @direitaBRAunida e @patriam777. Em suas descrições de perfis aparecem apoios ao ex-presidente Jair Bolsonaro e bandeiras do Brasil. Um dos perfis, de um militar na reserva, traz a foto de um treinamento de tiro. Outro fala da “Ditadura Socialulista da Toga” e exalta que a “direita conservadora está avançando no mundo onde há liberdade de escolha e não o maldito comunismo que destrói nações”. Os perfis dos agressores reforçam a análise de que, no espectro político-ideológico, os ataques à imprensa partem prioritariamente de pessoas que se consideram de direita.
Ataques à imprensa no Instagram
A análise feita nas publicações dos candidatos às eleições de 2024 no Instagram revela uma baixa quantidade de ataques diretos a jornalistas específicos ou meios de comunicação. Porém, há uma generalização do tratamento ofensivo à imprensa para gerar a autopromoção das candidaturas. Foram registrados na rede 90 postagens ofensivas ou estigmatizantes no período analisado.
O candidato à prefeitura de Porto Velho, Dr. Benedito Alves (Solidariedade) foi o único, entre os monitorados nas nove capitais abarcadas no levantamento, a direcionar críticas à imprensa. Ele fez isso em três de suas postagens, onde se diz vítima de “fake news”: “NÃO ACREDITE EM FAKE NEWS! Estão tentando nos derrubar a toda maneira”, declarou num post em que exibe prints de matérias jornalísticas. De acordo com o candidato, os veículos de comunicação estariam distorcendo informações para prejudicá-lo.
A abordagem, adotada por diferentes campanhas, reflete uma estratégia sutil de descredibilização da imprensa: mantém a ambiguidade ao evitar confrontos diretos, mas reforça a narrativa de perseguição para fortalecer sua imagem pública frente a seus eleitores.
Considerando os jornalistas atacados no Instagram, o comentarista político Reinaldo Azevedo foi alvo de comentários agressivos ao publicar uma matéria sobre uma pesquisa do Datafolha com os números dos candidatos à prefeitura de São Paulo, na qual citou o candidato Pablo Marçal (PRTB). Os internautas o chamaram de “bandido” e sugeriram que Reinaldo Azevedo não deveria expressar sua opinião: “Saudades de quando repórteres se manifestavam para informar, não para dar sua opinião”. Muitos associam a imagem de Reinaldo à esquerda como justificativa para atacá-lo.
O jornalista Ricardo Noblat também foi alvo de críticas no Instagram por sua postura profissional e em sua integridade pessoal. Em um comentário, Noblat foi descrito como “a escóri@ do jornalismo”. Em outros, foi chamado de “vovó Mafalda” e acusado de envergonhar sua família, além de ter sido chamado de “mal caráter” e “jornazista”.
Ataques fora das redes
Em Vilhena/RO, o jornalista
Paulo Andreoli, do
Rondônia ao Vivo, e o
blog Entrelinhas receberam um ofício da Polícia Federal pedindo os nomes dos responsáveis por uma
reportagem sobre o prefeito da cidade, o ex-delegado da PF, Flori Cordeiro de Miranda Junior, que busca a reeleição. Ele foi eleito pelo Podemos em 2022 tirando fotos com uma AR-15 nas mãos. A reportagem tratava da falta de quitação eleitoral, que poderia deixar o candidato fora do pleito, e o requerimento serviria para instruir uma investigação policial. Os jornalistas afirmam que o prefeito usou a PF para intimidar seu trabalho.
Em São Bernardo do Campo/SP, o repórter Artur Rodrigues, do Diário do Grande ABC, foi interpelado no dia 21 de agosto pelo vereador Paulo Chuchu (PL) sobre em quem votaria para a prefeitura. Rindo e mostrando sua pistola na cintura, o vereador ameaçou o jornalista, alertando-o para
ter cuidado com o que responderia.
Sobre o projeto
Em parceria com o Labic/UFES, a Coalizão em Defesa do Jornalismo está monitorando, desde o dia 15 de agosto, contas de jornalistas, meios de comunicação e candidatos/as em 9 capitais do Brasil (Porto Velho/RO, Belém/PA, Fortaleza/CE, Maceió/AL, Cuiabá/MT, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Florianópolis/SC e Porto Alegre/RS), nas plataformas de redes sociais Instagram e X.
São registradas postagens com termos e hashtags ofensivas e estigmatizantes contra o trabalho da imprensa. Episódios de ataques e violações ao trabalho da imprensa fora das redes, no âmbito da cobertura eleitoral, também estão sendo acompanhados. A análise dos principais resultados do levantamento será publicada toda semana, até a realização do segundo turno. Ao final das eleições, um relatório consolidará a avaliação do período monitorado e trará recomendações às autoridades e plataformas digitais.
A Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) é uma articulação de 11 organizações da sociedade civil em defesa da liberdade de imprensa, tendo como principais temas de atuação: proteção e segurança de comunicadores e jornalistas, sustentabilidade do jornalismo e integridade do espaço informacional.