O filme “Clube dos Cinco” (The Breakfast Club) completou esse ano 40 anos desde que foi lançado nos cinemas e o título pretensioso que coloquei como o “melhor filme sobre adolescência já feito” pode ser um exagero sim, ou não. Depende do ponto de vista de quem assiste diante de um gênero comum em que se fala sobre essa importante fase da vida e a abordagem que alguns diretores dão, geralmente levam a comédia (como o filme ‘Gatinhas e Gatões’, de 1984) ou pornochanchada (como o clássico ‘Pork’s’, de 1982).
Como drama de adolescentes tivemos dois clássicos bem representativos com o ator James Dean (mesmo o ator não sendo um adolescente como queria que parecessem) que mostram as agruras da adolescência, com sua rebeldia, imaturidade, aprendizado de vida através de decepções e conflitos familiares, nos filmes “Vidas Amargas” (Elia Kazan/1955) e o excepcional “Juventude Transviada” (Nicholas Ray/1955).
Nesse mesmo ano de 1955 outro filme do gênero explodiu de sucesso nas telas, o drama “Sementes de Violência”, escrito e dirigido por Richard Brooks, com Glenn Ford fazendo um professor numa escola com adolescentes rebeldes, à beira da marginalidade - com tensão racial e gangues. Só que o foco era no personagem do professor em conflito com os estudantes, porém se destacou pela linguagem diferenciada na abordagem com os jovens e ficou famoso por ser o primeiro filme usar um rock na sua trilha sonora, com “(We’re Gonna) Rock Around The Clock”, de Bill Haley & His Comets.
No início dos anos 80, o diretor Francis Ford Coppola lançou quase que simultaneamente dois filmes que marcaram o gênero adolescente, com uma proposta de mostrar a marginália dos jovens, perdidos em traumas e famílias divididas. O ótimo “Vidas sem rumo” (1983) e o cult “O Selvagem da Motocicleta” (1983). Em “Vidas sem rumo”, Coppola iniciou o chamado “brat pack”, um termo utilizado para classificar um grupo de atores e atrizes jovens que faziam papeis de adolescentes nesse período oitentista.
A partir dessas referências o roteirista e diretor John Hughes, que se tornou um especialista no gênero, escreveu e dirigiu em 1984 “Clube dos Cinco”, uma espécie de “dramédia” - drama com pitadas de comédia ou humor - que seria lançado nos cinemas no ano seguinte e acabou se tornando um grande sucesso.
O filme é uma representação quase teatral e tem uma estrutura narrativa bem simples, porém com um texto afiado e elenco perfeito, cujos personagens dão vida a cada tipo de modelo dos jovens que frequentam uma escola secundarista. E um dos charmes do filme é fazer isso ser orgânico e fixar praticamente em um único cenário o conflito desses jovens, com seus problemas pessoais e familiares.

Num sábado um grupo de cinco alunos são obrigados a ficar detidos na biblioteca da escola durante todo o dia como forma de prenda por algum delito que cometeram durante a semana que passou, logo identificamos os perfis pelo comportamento gestual de cada um e até mesmo o modo de vestir, o desajeitado e nerd Brian Johnson (Anthony Michal Hall), o esquentado atleta Andrew Clark (Emilio Estevez), a “esquisita”, porém fácil de identificar como a tímida e solitária, Allison Reynolds (Ally Sheedy), a patricinha e popular Claire Standish (Molly Ringwald, musa do diretor) e o delinquente John Bender (Judd Nelson, muito bem no papel).
Com eles somente mais duas pessoas, o vice-diretor da escola, considerado linha dura, Richard Vernon (o ótimo Paulo Gleason) e o faxineiro Carl (John Kapelos).
Nesse universo que parece restrito, o diretor Hughes então cria a interação entre os jovens, num misto de desconfiança e afronta entre eles, pois todos se conhecem, mas não se falam nos corredores da escola porque cada um pertence uma turma diferenciada, não escondendo até disciminação por classe social ou mesmo interesse de vaidade. Nos diálogos ficamos sabendo o que cada um pensa sobre si, a escola e até mesmo a definição de atitude de cada um em confronto.
A detenção exige que eles não saiam da biblioteca e ainda escrevam uma redação de mil palavras, cada um se descrevendo dentro da proposta do tema: “quem você pensa que é?”
Claro, são jovens, ainda mais quando tem um rebelde e considerado deliquente, John, entre eles, e a biblioteca é muito restritiva. Se engajam em uma missão puxada por John de pegar uma porção de maconha no seu armário. Quando todos se envolvem e tentam evitar serem flagrados pelo vice-diretor.
Vou evitar dar spoilers sobre o filme, mas tem dois grandes momentos que se tornaram clássicos e referências na citação de “Clube dos Cinco”. Um deles, o mais dramático, é quando resolvem fazer um “jogo da verdade” entre eles e cada um conta o que os levou ao castigo de sábado. A partir da narrativa de cada um ficamos sabendo o drama que passam, os traumas que estão vivendo, principalmente com conflitos familiares, cobranças excessivas em casa e entre os colegas, vivem um perfil de vaidade que não os permite ser eles, mas criar uma capa imersiva que os leva questionar a própria vida.
Outro momento é quando se acertam finalmente para compreender a motivação de cada um e como será a sua futura relação a partir daquele castigo. O texto final de uma das redações resume muito bem o que cada um pensa - ainda mais quando o personagem que o escreveu cita em off e a imagem que assistimos é do vice-diretor lendo.
“Clube dos Cinco” tem uma trilha sonora marcante, puxada pelo sucesso estrondoso de “Don’t you forget about me”, da banda escocesa Simple Minds, que fez muito sucesso nos anos 80 e início dos 90. Até começar a imitar o U2 e perder a identidade. Porém essa música é clássica e a maior referência do filme quando é citado.
CURIOSIDADES
John Hughes teve que convencer a Universal, produtora, que poderia dirigir o roteiro que escreveu, mas os produtores estavam receosos de entregar para um novato na direção até que ele os convenceu de que a produção não seria cara, pois teria como cenário uma escola e dois sets de fimagens.
Outro ponto importante é que Hughes escreveu o roteiro em apenas dois dias, o que impressionou os executivos da Universal.
Ao custo de um milhão de dólares, Hughes conseguiu a autorização. Rodando o filme entre os meses de março e maio em 1984.
Lançado em fevereiro de 1985, “Clube dos Cinco” arrecadou 51 milhões de dólares, com ótimas críticas e por anos foi considerado uma obra cult, influenciou outros filmes do gênero e a foto do cartaz se tornou um ícone dos anos 80.
O filme foi relançado nos cinema em 2015 após um processo de remastização, dentro da celebração de 30 anos de aniversário e posteriormente foi incluído entre os seletos filmes que integram o acervo do National Film Registry, pela Biblioteca do Congresso estadunidense com a epígrafe de consideração: "culturalmente, historicamente ou esteticamente significativo".
Outra curiosidade, o título do filme era originalmente "The Lunch Bunch" (O Grupo do Almoço), no entanto John Hughes soube que o filho de um amigo estava de detenção na escola cujo grupo era conhecido como "The Breakfast Club" (O Clube do Café da Manhã). Ele gostou desse termo e achou mais chamativo, então adotou e alterou o título original.
Durante algum tempo os produtores haviam considerado uma sequência e o próprio diretor disse que tinha uma ideia que poderia ser trabalhada, focando na reunião dos personagens depois de anos, todos agora com 30 anos, só que assumindo o papel de adultos e seus dramas pessoais, mostrando o rumo que cada um tomou na sua vida.
A ideia não teu prosseguimento porque o John Hughes sofreu um ataque cardíaco em 2009 e morreu.
Recentemente em celebração aos 40 anos do filme, todo o elenco se reuniu em uma convenção concorrida onde falaram para uma seleta plateia de fãs sobre os bastidores do filme, as consequências do sucesso de crítica e como a criação do diretor John Hughes se tornou uma referência como um dos mais representantivos filmes sobre adolescentes dos anos 80 e da história do cinema.