O resultado do 1º Fórum +Leite RO foi oficialmente consolidado e coloca a cadeia produtiva do leite de Rondônia em um momento decisivo. As entidades APRON (Associação dos Pecuaristas de Rondônia), FAPERON (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Rondônia) e FETAGRO (Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares) finalizaram a Proposta de Plano de Ação Estratégico para a Cadeia Produtiva do Leite, documento que reúne diagnóstico técnico, consenso institucional e um conjunto robusto de medidas para enfrentar a crise do setor
O plano foi elaborado a partir das discussões do Fórum e de análises subsequentes, e é direcionado ao Governo do Estado, Assembleia Legislativa e demais órgãos estratégicos, com o objetivo de evitar o colapso econômico e social da pecuária leiteira rondoniense.
CRISE ESTRUTURAL E RISCO DE COLAPSO
O documento aponta que a crise do leite em Rondônia é estrutural e econômica, e não apenas produtiva. O preço pago ao produtor, em muitos casos abaixo de R$ 2,00 por litro, não cobre os custos reais de produção. Em apenas cinco anos, o estado já perdeu cerca de 30% da produção diária, e a projeção indica que até um terço da capacidade produtiva pode desaparecer até 2030, caso não haja intervenção imediata
Mesmo sendo o maior produtor de leite da Região Norte e o 10º do Brasil, Rondônia enfrenta uma queda contínua no número de bovinos leiteiros, com redução superior a 38% entre 2017 e 2024. A situação afeta diretamente a agricultura familiar, acelera o êxodo rural e compromete a segurança alimentar e social do estado.
O PROBLEMA ESTÁ “FORA DA PORTEIRA”
O Plano de Ação é categórico ao afirmar que o núcleo da crise está fora da porteira, concentrado principalmente em três fatores:
Preço pago ao produtor abaixo do custo real de produção;
Prazos excessivos de pagamento praticados pelos laticínios;
Desequilíbrio contratual e margens negativas ao produtor.
O documento alerta que aumentar produtividade sem recompor renda apenas amplia prejuízos, reforçando o princípio de que “produtividade sem margem não é solução, é aceleração do colapso”
SETE PILARES PARA REORGANIZAR A CADEIA DO LEITE
A proposta apresenta um Plano Estruturante baseado em pilares estratégicos, com ações de curto, médio e longo prazo:
Proteção de Mercado e Combate a Abusos
Criação de preço mínimo regional, contratos obrigatórios entre produtores e laticínios, prazo máximo de pagamento de 15 dias, combate à cartelização e proibição da reconstituição de leite em pó importado.
Aporte Técnico e Eficiência Produtiva
Fortalecimento da assistência técnica, programas de genética, nutrição, manejo de pastagens, correção de solo e melhoria da qualidade do leite.
Financiamento e Governança do ProLeite
Novo marco legal para garantir que 100% dos recursos do Fundo ProLeite sejam destinados ao setor, criação de um Conselho Tripartite e transparência total na gestão dos recursos.
Compras Públicas e Mercado Institucional
Prioridade para produtos lácteos locais em programas públicos como merenda escolar, hospitais e programas sociais.
Infraestrutura e Logística
Redução do custo de energia, incentivo à energia solar, recuperação de estradas vicinais e melhoria da logística de transporte do leite.
Componente Social e Sustentabilidade
Ações voltadas à permanência da família no campo, sucessão familiar, capacitação de jovens e mulheres rurais e regularização fundiária.
Tecnologia, Inovação e Abertura de Mercados
Criação do Observatório do Leite, digitalização da assistência técnica, rastreabilidade, selo “Leite de Rondônia” e ações de marketing e expansão de mercados.
AÇÃO IMEDIATA E COMPROMISSO INSTITUCIONAL
O plano destaca a necessidade de ações imediatas em até 30 dias, como a criação do Conselho Tripartite ProLeite, a reativação das regras de transparência de preços, o combate à concorrência predatória e o destravamento de projetos parados desde 2023.
As entidades reforçam que a superação da crise exige decisão política, coordenação institucional e compromisso de Estado. A inação, segundo o documento, pode acelerar o êxodo rural e comprometer definitivamente a cadeia produtiva do leite em Rondônia.
Ao final, o plano reafirma a mensagem central do Fórum: “Leite forte é Rondônia forte”, destacando que a valorização do produtor é condição essencial para o desenvolvimento econômico e social do estado.