O adeus ao baluarte da história - Por Lourismar Barroso

 

O ano era 2000, quando tive o primeiro contato com a fortaleza Príncipe da Beira. Naquela ocasião, levamos estudantes do colégio Pitágoras e da Escola Carmela Dutra para executarem o Projeto Limites e Fronteiras. Esse projeto tinha o objetivo de propor aos nossos estudantes conhecerem parte de sua história, através dos monumentos históricos.
 
 
Por muitos anos, Elvis foi o nosso condutor, líder nato dos quilombolas que gostava de transmitir a história repassado por seus antepassados.
 
 
Desde o primeiro contato, nasceu uma grande amizade, até ser surpreendido na data de hoje, 24 de abril 2023 com a notícia de sua partida.  
 
 
O tempo foi passando e nossa amizade se tornava cada vez mais sólida. Elvis sempre entrava em contato para noticiar o que tinha encontrado em suas andanças pela floresta. Pesquisadores renomados do Brasil e do Mundo, que obtiveram o trabalho do Elvis, puderam aprender um pouco do seu conhecimento nativo, assim como ensinaram também.
 
 
Nosso eterno guia possuía o contato direto com a natureza, e não se cansava de explorá-la. Elvis nasceu bem ao lado da fortaleza Príncipe da Beira, privilégio para poucas pessoas acordar e contemplar aquela estrutura de rochas cangas gigantescas. 
 
 
Cresceu ouvindo de seus avós a história da construção do Forte, o padre que foi jogado no buraco; o cachorro de ouro que foi esquecido na mesa do comandante; o túnel que ligava a floresta e tantas outras histórias, que para ele não passava de absurdas.
 
 
De tanto ouvi-las, passou a se interessar, logo se tornou um condutor e defensor daquele patrimônio, passando a transmitir aos amigos, pesquisadores, estudantes, visitantes e turistas, a beleza do local e significado daquele monumento.
 
 
Elvis fazia questão de acompanhar pesquisadores e autoridades. Não media esforços para transmitir seus conhecimentos. A cereja do bolo era abrir uma discussão quanto a estrutura que foi achado da floresta, próximo a baia das onças, se a mesma se tratava de um “labirinto” ou “Missão de Santa Rosa Velha”.
 
 
Por duas décadas mantivemos nossa amizade, assim como aprendi, também ensinei o que tinha de ensinar.  Escrevi sua história no livro “O Príncipe da Beira: 1775/1783”, sendo o capítulo: OS IRMÃOS DO FORTE.
 
 
Aprendendo a dominar a história como um legado deixado por seus antepassados, os irmãos do forte como são conhecidos por todos aqueles que já visitaram a região, tem em seu quintal o maior monumento das Américas construído pelos portugueses fora da Europa. Ao mesmo tempo em que se tem como privilégio morar e acordar todas as manhãs olhando para a muralha de pedras, esses guardiões carregam em seus ombros a responsabilidade de orientar e conduzir os visitantes diante de uma obra em ruína.
 
 
Por décadas, esses irmãos já conduziram visitas de vários estados brasileiros e de diversa parte do mundo. Descendentes de boliviano com quilombolas, Elvis Pessoa segue os dias encontrando artefatos, petroglifos, construções em ruínas, sendo todo esse material catalogado e registrado por ele, já seus irmãos Thiago e Argel conduzem os turistas para uma visita guiada pelo interior da fortaleza.
 
 
Assim como a Fortaleza Príncipe da Beira tem suas muralhas resistente ao tempo, Elvis não teve a mesma sorte. Sua maior fraqueza veio de dentro para fora. O coração não resistiu o peito cheio de vida que pulsava com vontade de querer viver intensamente. O coração parou, levando consigo aquele que por toda vida, deu o seu melhor para proteger, resguardar e preservar o nosso mais antigo monumento histórico de Rondônia. 
 
 
Elvis nos deixou fisicamente, mas seu espírito estará sempre presente no ambiente que ele escolheu para viver e amar, o interior da Fortaleza. Para a professora, pesquisadora Drª Roseane Norato que esteve com Elvis alguns anos atrás nos, diz que “temos a sensação que o guardião, nosso eterno guia ficará sempre de sentinela”.  
 
 
Assim como os demais homens que deixaram seu legado para a História, Elvis sai da vida para se imortaliza na defesa espiritual da Fortaleza Príncipe da Beira. 
Pronto! Agora, poderá conhecer no mundo espiritual, aqueles de quem tanto falou em vida, como Domingo Sambucette (engenheiro da fortaleza); Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres (4º governador de Mato Grosso); o Marechal Rondon; O José Carlos de Carvalho, o descobridor do Forte e tantos outros personagens que você conheceu na história.
 
 
Que seu espírito continue a zelar e guardar como fez em toda vida por nossa fortaleza.
 
Seremos para sempre o guardião da tua Memória.
(Lourismar Barroso)

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