Estratégias para 2026
O tabuleiro político de Rondônia começa a se movimentar com força rumo a 2026. Velhos nomes tentam retornar ao jogo, novos atores buscam espaço e as lideranças nacionais voltam seus olhos para o Estado como parte da estratégia de realinhamento partidário. Entre ensaios de candidaturas, alianças improvisadas e movimentos de bastidores, o cenário mostra que a próxima eleição será marcada menos por ideologias e mais por cálculo pragmático.
Vamos ao café de hoje.
A carta de volta de Acir Gurgacz
Entre o pragmatismo e a oportunidade - A reaproximação de Acir Gurgacz da política rondoniense pode recolocar o ex-senador no centro do debate estadual. Mesmo sem a força eleitoral de outrora, Gurgacz ainda é um nome conhecido e capaz de dialogar com setores que fogem da polarização. Mas o seu melhor caminho seria uma candidatura ao governo que, se acontecer, pode representar a alternativa esperada pelos eleitores de esquerda e para aqueles cansados dos discursos bolsonaristas.
O voto útil e o fator “zebra”
Entre a bolha da esquerda e o eleitor sem ideologia - A esquerda tradicional em Rondônia não passa de 9% do eleitorado, o que inviabiliza candidaturas do PT, PSB ou PV de alcançarem o segundo turno. Acir, no entanto, tem o diferencial da imagem empresarial e do discurso moderado. Mesmo assim, seria uma zebra chegar ao segundo turno. O caminho mais plausível seria compor, no segundo turno, com o “menos bolsonarista” entre os finalistas e negociar protagonismo no futuro governo.
Aliado de ocasião
Acir como pivô de um segundo turno improvável - Numa disputa marcada pela saturação de discursos de direita e a inexpressividade da esquerda, se estiver bem assessorado, o ex-senador pode se tornar peça-chave de um eventual segundo turno. pode trocar apoio por espaço político, garantindo sobrevida e influência mesmo fora da cadeira do Executivo. Gurgacz, neste tabuleiro, jogaria para permanecer relevante — não necessariamente para vencer.
O nó da extrema direita
Michelle Bolsonaro mexe no tabuleiro e cria desconforto
O efeito colateral de um apoio precipitado - A benção de Michelle Bolsonaro ao pecuarista Bruno Shaid, de Ji-Paraná, acendeu o alerta no PL rondoniense. Shaid, de extrema direita, divide o mesmo reduto do senador Marcos Rogério, e seu avanço pode fraturar a base bolsonarista. Caso ganhe tração, o resultado será um racha inevitável entre aliados que disputam o mesmo eleitorado conservador.
Fogo amigo em Ji-Paraná
Quando o reduto vira campo de batalha - Marcos Rogério construiu sua imagem política sobre o bolsonarismo, mas agora pode enfrentar concorrência dentro de casa. Um eventual crescimento de Bruno Shaid nas pesquisas pode enfraquecer o senador, minando seu caminho à reeleição e abrindo brechas para candidatos de centro e centro-esquerda. O problema é que, para o PL, um erro estratégico como esse pode custar a vaga no Senado.
O fator Daciolo
Evangélico, carismático e... concorrente - Enquanto o PL se enrola, surge outro nome de perfil conservador: o ex-deputado Cabo Daciolo, que mira o Senado com base religiosa. Sua entrada pode fragmentar ainda mais o voto da direita, disputando fiéis com Marcos Rogério e penetrando nas igrejas evangélicas — justamente o reduto que o senador domina. A direita rondoniense corre o risco de dividir o bolo em fatias pequenas demais para garantir vitória.
Cabo Daciolo em Rondônia
Entre o discurso messiânico e o oportunismo político
O forasteiro da fé - A mudança do domicílio eleitoral de Daciolo para Rondônia, sem qualquer histórico de atuação no Estado, gerou críticas. Sua candidatura ao Senado é vista como oportunismo e revela o descompromisso de lideranças locais que priorizam projeção nacional em detrimento de representatividade regional. Daciolo entra em um terreno que desconhece — social, político e culturalmente.
Alienação e responsabilidade do eleitor
Quando a fé vira capital político - Apara os analistas políticos, a candidatura de Daciolo expõe uma fragilidade recorrente da política rondoniense: o apoio a nomes sem vínculo local. Se parte do eleitorado embarcar nessa onda, estará legitimando o distanciamento entre representantes e representados. A crítica se estende às lideranças partidárias que avalizam forasteiros sem propósito concreto de contribuição ao Estado.
Expedito Júnior aposta em nova geração política
Fúria sobe o tom - De prefeito bem avaliado a pré-candidato ao governo. O presidente do PSD em Rondônia, Expedito Júnior, confirmou o nome do prefeito de Cacoal, Adailton Fúria, como pré-candidato ao governo. Com cerca de 90% de aprovação, Fúria desponta como um dos políticos mais bem avaliados do Estado e já articula alianças com lideranças estaduais. A estratégia é clara: apresentar uma candidatura com energia de renovação e discurso de gestão.
Projeto de poder estruturado
PSD prepara nominatas e reforça base feminina e jovem - Sob o comando de Expedito, o PSD busca se fortalecer em todos os 52 municípios. A criação dos núcleos PSD Jovem e PSD Mulher visa ampliar a militância e preparar o terreno para 2026 e 2028. A sigla quer quatro cadeiras na Assembleia Legislativa e duas na Câmara Federal, mirando inclusive a eleição de Joliane Fúria, esposa do prefeito.
Acordos e alianças estratégicas
PSD pode apoiar Rocha para o Senado e Ratinho Júnior para o Planalto - Expedito Júnior admitiu que o partido pode apoiar o governador Marcos Rocha, caso ele dispute o Senado, e vê em Ratinho Júnior o nome nacional do PSD para 2026. O movimento sugere um cálculo de médio prazo: fortalecer Fúria em Rondônia enquanto o partido se reposiciona nacionalmente. A engrenagem do PSD começa a girar — e Expedito, mais uma vez, mostra que entende o tempo da política.
O palco
Entre velhos conhecidos e novos rostos, Rondônia ensaia os primeiros movimentos de uma eleição que promete ser uma das mais fragmentadas e acirradas das últimas décadas. As estratégias começam a ser descortinadas — e como sempre, o eleitor será o árbitro final desse jogo que, por enquanto, ainda está em aberto.