Foto: Divulgação
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Conforme artigo publicado no dia 30 de agosto último Que a História Não se Repita, a Memória Cultural e Histórica de Rondônia parece ser seletiva - com exceção de apenas um vereador, nenhuma outra autoridade, sequer escritor, ou instituições como o IPHAN, o Instituto Histórico e Geográfico, nem mesmo, os membros de quaisquer Academias dessas que "dizem valorizar a Memória Regional" se manifestou até o momento a respeito da insigne data, celebrada como farsa a cada 30 de agosto durante as últimas décadas, a ponto de nem mesmo comentarem ou criticarem as questões levantadas sobre o tema, como que estivessem todos sofrendo de uma síndrome de Alzheimer coletiva.
Felizmente conforme Edmund Burke, "a função do Historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer". Desta forma, transcrevemos aqui, mais algumas fontes primárias (algumas centenárias) que nos permitem ter ideia dos eventos referentes à esta data:
A publicação norte-americana Engineering News[1] do dia 08 de agosto e 1912, na pág.273 menciona o nome da autoridade que representaria os EUA na referida inauguração:" O Dr. Albert Hale, da União Pan-Americana, foi escolhido para representar os Estados Unidos na cerimônia formal da Madeira e Mamoré em 7 de setembro."(traduzido)
No Jornal O Paiz(RJ) de 8 de setembro de 1912[2] foi publicada uma mensagem do engenheiro Pinkas, que, no final do séc. XIX fora um dos responsáveis pelo levantamento do traçado topográfico da futura EFMM. O referido engenheiro, mesmo estando na cidade no Chile, não quis deixar a data passar em branco, enviando um telegrama à redação do referido jornal, o qual transcrevemos ipsi literis: [Do ilustre engenheiro Pinkas, recebêmos o seguinte telegramma "ANTOFOGASTA, 6 - No dia da inauguração da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, saudo o Paiz, defensor dos seus estudos há trinta annos passados."]
Excerto do Jornal O País(RJ) de 08 de setembro de 1912
No dia 9 de setembro, dois dias após o evento, o jornal The Christian Science Monitor[3], à pág. 4, além de incluir duas imagens relativas à EFMM, corrobora a notícia informando que: "A Bolívia tem a sorte de ter um vizinho a leste tão empreendedor como o Brasil, que, agora que a ferrovia Madeira-Mamoré foi oficialmente inaugurada em 7 de setembro, fornecerá uma esplêndida agência de transporte para os bolivianos e também para os brasileiros ocidentais. Isso deve inspirar a Bolívia a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para promover ainda mais a conexão ferroviária em direção ao noroeste. Os Estados Unidos demonstraram seu interesse na abertura do empreendimento Madeira-Mamoré enviando um representante da União Pan-Americana para os exercícios dedicatórios."(traduzido)
A publicação Engineering News [4] em 26 de setembro daquele mesmo ano, na pág. p.578 reforça o ocorrido: "Em 7 de setembro de 1912, a última seção da Madeira & Mamoré Railway foi inaugurada ou formalmente aberta ao tráfego. Esta seção se estende de Abunã (km. 220) a Guajará-Mirim (km. 364). A data selecionada para a consumação deste dispendioso empreendimento é um dos três grandes feriados brasileiros — o trigésimo aniversário da separação política do Brasil de Portugal. O feliz evento foi testemunhado por muitos funcionários do governo brasileiro e por vários representantes da União Pan-Americana, e por um dos engenheiros sobreviventes da expedição Collins de 1878. A locomotiva Baldwin “Coronel Church”, levada ao Brasil em 1878, foi usada para puxar o trem oficial."(traduzido)
A inauguração dos trechos da EFMM, levava sempre as bandeiras dos três países envolvidos hasteadas
Talvez a dificuldade para reconhecer que a data oficial de inauguração oficial da EFMM pelos "connoisseurs" locais, se deva às pequenas notas publicadas nos jornais norte-americanos em língua inglesa, o que dificulta até certo ponto o acesso às fontes primárias, então, além de traduzirmos livremente os trechos acima, reproduzimos aqui, outro texto em português assinado por um colunista que se identifica apenas como "JOTA", publicado no próprio Jornal Alto Madeira [5], o qual relata os preparativos para a dita cerimônia, bem como, as questões políticas e transfronteiriças supostamente envolvidas - mas alertamos: a leitura pode ser de difícil compreensão para alguns, posto que, a transcrição apresenta-se conforme as regras gramaticais da época:
"Reminiscencias
Porto Velho d'outrora
Os constructores da Estrada inauguraram-na, á revelia do consentimento e ordem do governo, sem convite de especie alguma ás autoridades brasileiras, no dia 7 de setembro de 1912. Partio o trem inaugural, desta localidade, á 5, chegando de volta na tarde daquele dia, trazendo o sr. dr. Rodolpho Arauz, delegado do Territorio Nacional de Colonias do Noroeste de Bolivia, acompanhado por uma banda de musica do exercito boliviano, bem afinada e numerosa. Seriam cerca de desoito horas quando se ouvio lá pára os lados da estação os accordes do hymno brasileiro, correctamente executado pela banda. Acabára de chegar o trem.
Dahi partio em demanda consulado de Bolivia, que funccionava na casa em que reside actualmente o sr. coronel Prudencio Bogéa de Sá, onde se hospedou o sr. Arauz, executando bello dobrado americano. Ahi tocou retreta até cerca das vinte e uma horas. No dia seguinte a Mesa de Rendas e a Fiscalisação, que estavatam, ao tempo, respectivamente, nas casas em que agora moram Mr. Brisard e Mr. Craney tiveram aviso de que a musica lhes ia fazer uma surpresa, realisando em frente dos edificios das duas citadas repartições um ligeiro concerto, antes de ir tocar no grande baile que a companhia offereceu aos seus empregados, na casa do gerente.
Mas, a surpresa foi que ella deixou o pessoal das duas citadas repartições a ver navios, e com grande despesa de champagne e de cerveja. Que, aliás, não se perderam. Um dos engenheiros da empresa Collins, que em 1878 tentou construir a Estrada, tendo trabalhado em Santo, teve a felicidade de vê-la inaugurada trinta e quatro annos depois, fazendo parte da comitiva dos srs. May, Jekill e Randolph. A locomotiva que puchou o trem inaugural foi a n. 12, abandonada no anno supracitado em Santo Antonio, e restaurada em 1911-1912, nas officinas da Companhia, nesta Villa."
Em memória a essas narrativas históricas apagadas de nossa Memória, é que esse outro "jota" compartilha em primeira mão aos interessados (se houverem) os fatos e fontes acima descritos, incluindo os links para as referidas fontes, ensejando mais uma vez, que a história não se repita novamente em forma de farsa, mas que seja fiel aos fatos, como em tese e prática deveria ser.
Joesér Alvarez, Historiador
Responsável pela pesquisa histórica do Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré - MEFMM
Coordenador do Museu Imaterial da Imagem e do Som de Rondônia - MIIS-RO
https://miis-ro.org/memoria-da-ferrovia-madeira-mamore
Referências
[1] Disponível em: https://archive.org/details/sim_enr_1912-08-08_68_6/page/272/mode/2up?q=MADEIRA+MAMORE+RAILROAD;
[2] Disponível em: https://archive.org/details/1912-setembro-21-sabado-a/1912%20Setembro%2008%20Domingo%20a/page/n1/mode/2up?q=madeira+mamore;
[3] Disponível em: https://archive.org/details/per_christian-science-monitor_the-christian-science-mo_1912-09-09_4_242/page/n3/mode/2up?q=madeira+mamore&view=theater;
[4]Disponível em: https://archive.org/details/sim_enr_1912-09-26_68_13/page/578/mode/2up?q=MADEIRA+MAMORE+RAILROAD;
[5]Jornal Alto Madeira de 30 de maio de 1918. Disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx;
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