Essa semana teve o dia dos namorados também o famoso sexta feira 13, dia do sobrenatural, das entidades malignas tomar conta do ambiente - tem gente que nesse dia anda com um patuá escondido na roupa, evita cruzar o caminho de gato preto, passar debaixo de escada, mas, principalmente não caminhar em frente do cemitério a noite. Tudo é uma tensão ou um susto.
Vou indicar três filmes muito bons, que misturam terror, suspense e um drama de cair o queixo. Vou evitar indicar um filme da franquia “Sexta-feira 13”, o um “Hora do Pesadelo” e clássicos como “O Exorcista”, entre tantos que valem assistir na frente da TV com a luz do quarto ou da sala apagada. Pois são referentes e vez ou outra estão na lista de indicados, vamos mudar um pouco esse rol com filmes que trazem alguma novidade a mais para o gênero de suspense e... Terror.
Mas, sim, assista com a luz apagada, a imersão é bem melhor.
Segue o fio:
“FALE COMIGO” - Está disponível no catálogo de serviço de streaming da Prime Video o filme "Fale comigo", terror escrito e dirigido pelos irmãos gêmeos Danny e Michael Philippou, conhecidos por manter um canal no YouTube (RackaRacka).
Nesse filme, que marca a estreia deles no cinema, mostra de forma surpreendente e inusitada um grupo de adolescentes que cria um ritual para ser divulgado nas redes sociais em que conjuram um espírito através de uma velha mão embalsamada. Esse objeto é um portal de comunicação que faz com que após conjurar o espírito a pessoa que aperta a mão pode pedir para ser possuída.
Detalhe, essa pessoa só pode ficar possuída por 90 segundos - não mais que isso - se não pode ocorrer algo pior.
Enquanto está possuída os jovens em sua volta ficam registrando esse momento com os celulares e fazendo transmissão ao vivo nas redes sociais.
Mia - a ótima atriz Sophie Wilde (Vocês Não Me Conhecem) -, faz sua estreia no cinema como a protagonista, uma das meninas que mais se empolga com a brincadeira macabra. Ela é que conduz a história e tem um trauma após a recente morte de sua mãe, que suspeita ter se suicidado.
Ela passa mais tempo na casa da família da sua melhor amiga, Jade (Alexandra Jensen), onde cuida do irmão mais novo dela, Riley (Joe Bird), do que na sua casa, ignorando assim o seu pai. Quando ocorre uma sessão na casa de Jade, sem que a sua mãe, Sue (Miranda Otto, de O Senhor dos Anéis), saiba, algo dá muito errado.
Mia então passa a sofrer as consequências, misturando visões enigmáticas com a sua mãe, e intensificando o seu luto, enquanto luta com uma realidade caótica, causando horror e violência.
A atriz Sophie está incrível, tem momentos intensos e de total entrega com uma sensibilidade que causa as vezes repulsa e compaixão, dando força a uma personagem complexa - que vive o luto dentro de um trauma que parece irreversível até o final surpreendente.
O filme tem efeitos práticos muito eficientes, sustos criados dentro de uma originalidade orgânica bem engendrada, sem ser o susto pelo susto ou aqueles jump scare despropositais.
Talvez o roteiro peque por não aprofundar alguns coadjuvantes que parecem bem na primeira hora de filme - com potencial para ganhar um desenvolvimento melhor - e depois são esquecidos ou ignorados.
"BARBARIAN - Noites Brutais" - Ess é um terror mirabolante com um plot twist na metade de sua projeção e está disponível no catálogo do serviço de streaming da Star Plus - que faz parte do pacote da Disney -, escrito e dirigido por Zach Cregger. Esse é, com certeza, um dos filmes mais criativos e originais do gênero terror dos últimos anos e com um final divisível e polêmico.
Tess (a ótima Georgina Campbell) chega numa noite chuvosa em frente a uma casa em um distante e quase abandonado bairro escondido na cidade de Detroit. Ela alugou através do Airbnb uma casa para dormir, pois terá uma importante entrevista de emprego no dia seguinte.
Porém descobre que já tem alguém ocupando o local, um jovem estudante, Keith (Bill Skargård, que fez o palhaço Pennywise em "It"), numa breve conversa eles descobrem que o serviço da Airbnb locou a mesma casa no mesmo horário para os dois, um erro. Mas como está chovendo muito, Keith convida Tess a dormir na casa, ele cede o quarto enquanto vai dormir no sofá da sala.
Muito desconfiada da história, de início Tess não aceita, mas sem saída é impondo algumas regras acaba concordando. Mais tarde, menos tensa vai conversa com o inquilino indesejável para descobrir que ele é um bom sujeito, ainda que dúbio.
No outro dia acorda tarde e percebe que Keith já saiu, deixando um recado para ela ficar a vontade e que depois poderiam jantar e conversar mais.
Por um infortúnio, mais tarde ela precisa de um objeto que está no porão. Mas por acidente a porta se fecha deixando-a trancada no cômodo. Assustada e sem ter o que fazer só lhe resta esperar Keith voltar para lhe tirar dessa encrenca.
Sem querer ela acaba descobrindo uma passagem secreta no porão e aí tem início a uma sequência de segredos que aquela casa esconde, coisas perturbadoras e que a deixam em pânico.
A situação piora quando Keith volta e a salva, para depois ele investigar o quarto secreto e sumir misteriosamente. Quando Tess vai atrás dele acaba descobrindo um terrível segredo.
Esses são os 40 minutos iniciais do filme, Praticamente um prólogo extensivo impactante, pois no fechamento vem um plot twits (virada de roteiro) absurdamente assustador e chocante.
O filme reinicia e parece outra história, mas não, agora o centro da trama é AJ (Justin Long), um artista promissor, que vem cantarolando dirigindo feliz pela Pacific Highway Coast, perto de Malibu, para descobrir que a sua vida artística pode ir a falência por conta de uma denúncia de suposto estupro com uma atriz.
Curiosamente depois de descobrir com o seu advogado que não tem dinheiro para bancar uma indenização pela acusação da agressão sexual, descobre que só lhe resta um imóvel. Justo a casa onde Tess e Keith alugaram juntos por erro do Airbnb.
Nesse intermezzo o filme apresenta um flash back do local onde se encontra a casa, só que 35 anos atrás - nos anos 80, início da Era Reagan - onde era tudo limpo, todas as casas do bairro inteiras e com famílias num ambiente harmonioso. Foca na figura de um morador estranho e mal intencionado. Que não posso comentar mais nada.
O filme volta para o presente e AJ vai na casa do bairro decadente para descobrir da pior maneira possível o que aconteceu a Tess e Keith.
Uma produção esmerada tecnicamente, com ótima edição, e principalmente uso do cenário natural, que mostra um dos momentos mais perturbadores logo no início.
Como o diretor filma com a câmera fechada, geralmente, focando nas expressões de horror dos rostos dos personagens. Em um momento quando Tess fica parada na varanda da casa, com a única luz do local acessa e ela olha em volta, na vizinhança, debaixo de uma chuva intensa, a imagem de decadência choca, com as casas em volta abandonadas, destruídas e um soturno sentimento de medo.
Tudo funciona no filme, o modo como se cria o suspense e os jumpscare (sustos) com a iluminação densa, as vezes pela escuridão de corredores ermos, um trabalho de montagem incrível e efeitos práticos de tirar o chapéu.
O final aterrador é daqueles que você fica sentado na beira do sofá roendo as unhas e se perguntando: "E agora???"
"BELA VINGANÇA" - Quando chegou o terceiro ato do filme "Bela Vingança" (Promising Young Woman/2020) e até o desenrolar do plano de Cassey (Carey Mulligan) o desfecho é inesperado e assustador. Desde o filme "Beleza Americana" eu não ficava com um final de filme por dias martelando a minha cabeça.
Escrito e dirigido pela ótima Emerald Fennel, o filme que ganhou o Oscar de melhor roteiro original é excepcional.
Um filme pequeno em nível de orçamento, mas que não parece porque tudo funciona, permite ousadia e um tema muito atual sobre abuso e violência que as mulheres sofrem com assédio, estupro e omissão de quem deveria proteger, mas são tratadas como carne barata.
Cassey é uma mulher incomum e ex estudante de medicina. Com 30 anos ainda mora com a mãe e o pai; tem um emprego em uma cafeteria, porém desde quer perdeu sua amiga de infância, Nina, ela cultiva um ódio, desprezo pelos homens.
Percebe que Cassey tem um trauma que gerou uma quase psicopatia. Ela frequenta bares e finge estar bêbada para atrair homens - mais novos e gentis - que querem dar carona à ela, mas geralmente eles pensando que ela não está bem, acabam levando para seus apartamentos e tentam abusar sexualmente, quando ela desmascara os "bons moços" mostrando estar ciente e consciente.
Nina, sua amiga desde a infância, foi estuprada por um colega de classe quando fazia faculdade com Cassey e no ato um grupo de homens assistia e um deles chegou a filmar o estupro e divulgou nas redes sociais.
As consequências disso resultaram em uma tragédia que desestruturou a mente de Cassey, que ficou perdida até conseguir uma motivação que a fizesse com o que ela sacrificasse seus temores, desestruturando sua vida pessoal.
Não conto mais, "Bela Vingança" é um filme com uma narrativa incrível, cenários caprichados, uma fotografia clara e colorida que causa até um certo desconforto diante das sequências incômodas.
É um drama com conflitos psicológicos e que permitem Cassey tomar as rédeas da situação diante de descobertas - uma em especial - que vão motivar ela elaborar e transformar a sua vingança numa punição inevitável a quem ela quer atingir de fato.
O final me causou um misto de sentimentos desconcertantes e uma surpresa satisfatória, que não é clichê - nem de longe.
"Bela Vingança" - que recebeu um título nacional ridículo, pois você vai entender quando assistir - é um filme que permite discussões sobre os limites do abuso, do assédio e principalmente como as mulheres são vulneráveis.
O filme está disponível na Netflix pelo streaming do Telecine.