Esse filme da Coreia do Sul é um legítimo Rom Com, uma comédia romântica com um certo teor dramático e que, no contexto coreano, é chamado de K-drama, um gênero que faz muito sucesso pela simplicidade da história que quer contar.
“Amor Enrolado” (Gobaekui Yeoksa/2025), escrito por Chun-hee Ji e Doo-ri Wang, com a sensível direção de Sun Namkoong, já está disponível no catálogo da Netflix e mostra, de forma direta, como a jovem Park Se-Ri (a excelente atriz Shin Eun-Soo), uma adolescente que tenta superar o seu complexo por ser a única na família a ter o cabelo enrolado, vive com os amigos de sala de aula o último ano do ensino médio, enquanto nutre uma paixão escondida por Kim Hyun (Cha Woo-Min), o aluno mais atlético e bonito da escola, de outra sala.
Frustrada por não conseguir um tratamento capilar de alisamento que perdure, Se-Ri acaba salvando um rapaz meio desajeitado na praia, que caiu no mar e não sabia nadar, Han Yoon-Seok (Gong Myung, numa interpretação sensível). Depois desse incidente, ela descobre que ele é um aluno novo que veio concluir os seus estudos na mesma sala de aula dela.
Junto com seus amigos, Se-Ri vai integrar Han, que é introspectivo e muito tímido, aos costumes de rotina das aulas, das brincadeiras e conversas de grupo. Porém, o novato ganha mais interesse dela quando descobre que a mãe dele tem um salão de beleza com um novo método de alisamento para cabelos enrolados que faz com que perdure por um longo tempo.
Como Han aparentemente machucou a perna na queda no mar, ele faz uso de uma muleta. Dessa dificuldade em andar e cumprir tarefas com mais agilidade, Se-Ri enxerga uma oportunidade de aproximação maior com o novato, para conseguir fazer o alisamento especial com a mãe dele. Em troca disso, ela atuaria como uma espécie de babá de Han, executando ações que ele não pode realizar devido à muleta.
Com essa missão, Se-Ri espera finalmente tratar de forma definitiva, e de graça, o seu cabelo enrolado com a mãe de Han e superar a sua baixa autoestima, principalmente para poder se declarar ao atlético Kim, que simpatiza com ela.
Dessa tarefa de ajudar Han vai nascendo uma amizade de confiança e responsabilidade. Mas logo se percebe que ele se apaixona por Se-Ri, embora reprima esse sentimento, tentando ajudá-la a conquistar o coração de Kim.
Com esse plot simples, não se pode escrever como um lugar-comum entre os filmes desse gênero ao lidar com um amor não correspondido, sacrifício, perda e conflitos de interesses. Ainda que possa ser previsível e até bobo.
Mas, como um bom K-drama, as soluções que podem parecer, em um primeiro momento, fáceis não são tão simples quanto parecem.
Com um roteiro muito bem engendrado em criar um laço entre Se-Ri e Han, principalmente pela atuação dos atores, muito sensível, com maneirismos naturais, diálogos e situações tão orgânicas, somos pegos pela sintonia de todo o drama e pela hegemonia dessa relação de amizade, que pode ir além, mas que depende também de decisões do destino.
Se o filme apresenta uma camada simples da situação mostrada, na terceira parte, em seu terço final, teremos uma resolução edificante, mas que esconde segredos e mexe com a emoção do espectador. Pela sintonia da imersão desses personagens, somos surpreendidos pelo rumo que a história toma, e é de cortar o coração.
Sem spoiler, a cena da leitura do álbum/diário é catarse pura, capaz de levar os mais sensíveis às lágrimas.
“Amor Enrolado” engana ao parecer um filme fácil, pois, em suas entrelinhas, mostra que, nas coisas mais simples da vida, estão os segredos mais dolorosos e que, para conseguir alcançar a felicidade, todos os sacrifícios podem ajudar (ou não).
O filme é lindo e já está na minha lista de melhores do ano. É um filme para assistir com uma lágrima e um sorriso.