FALTA EMPATIA? Pessoas não fizeram nada para evitar morte de funcionário público

Situação envolvendo homem de apenas 37 anos provocou debate sobre ações para evitar medidas extremas

FALTA EMPATIA? Pessoas não fizeram nada para evitar morte de funcionário público

Foto: Reprodução/Instagram

As primeiras horas da manhã do último sábado (17) pareciam ser de um dia comum em Porto Velho até a notícia da morte do fiscal de tributos da Prefeitura de Porto Velho, Alien Bruce Pontes da Silva, de apenas 37 anos.

 

Segundo informações repassadas ao Rondoniaovivo, uma equipe da Polícia Militar foi chamada ao local por um homem estar se jogando na frente de diversos veículos na Avenida Imigrantes, próxima à rotatória com a Avenida Guaporé, na capital.

 

Infelizmente, ao chegar ao local, os PMs encontraram Alien já morto. A vítima teria deitado no chão, um motorista de carreta tentou desviar, mas não conseguiu. O funcionário público municipal morreu instantaneamente após uma das rodas do veículo passar sobre seu corpo.

 

Familiares que estiveram no local, falaram aos policiais que Alien estava em tratamento de depressão há algum tempo.

 

E a pergunta que muitos fizeram e o jornal eletrônico repete: a tragédia poderia ter sido evitada?

 

Ações

 

Sim, a tragédia poderia ter sido evitada, segundo a opinião de três pessoas que procuraram a equipe de reportagem do Rondoniaovivo. Duas estão em tratamento contra a depressão, com acompanhamento médico e uso de medicamentos, e outra disse faz tratamento com remédios naturais e sessões de terapia com ajuda de um psicólogo contra a doença.

 

Por ainda haver muito preconceito e críticas, especialmente nas redes sociais, vamos identifica-las por nomes fictícios: Ana, Bárbara e João Pedro. Os três ficaram chocados com a falta de iniciativa das pessoas que não tentaram impedir o ato extremo que aconteceu no último sábado (18) na capital de Rondônia.

 

“As mesmas pessoas que viram e ligaram para a polícia, poderiam ter se juntado para tentar retirar o rapaz da pista. Uma pessoa sozinha não conseguiria parar o trânsito naquele horário, mas um grupo de pelo menos cinco, poderia ter feito isso e tirado ele da pista. Mas preferiram não se meter nisso”, disse Bárbara.

 

“Infelizmente, falta empatia, compaixão e clemência no ser humano. Não se colocaram no lugar da família, que está vivendo uma tragédia. E isso fica pior porque poderia ter sido evitada. É aquela coisa: se não é comigo, eu não ligo. Só quem passa por depressão igual eu, sabe que não conseguimos enfrentar tudo isso sozinho”, pontuou João Pedro.

 

Alien parecia uma pessoa alegre e cheia de vida, mas tinha depressão; comentário no seu Instagram lamenta a falta de ação das pessoas antes da tragédia - Reprodução/Instagram

 

A situação se torna ainda mais revoltante, de acordo com nossos personagens, pois surgiram dois vídeos divulgados em grupos de WhatsApp: o primeiro, mostra Alien nu, no meio da Avenida Imigrantes, enquanto os carros passam devagar para vê-lo e registrar as cenas.

 

Em outro, um casal que estava no sentido contrário ao acidente registrou tudo, desde a vítima estar deitada na pista até seu atropelamento. Não vamos divulgar os vídeos em respeito aos familiares e amigos(as) da vítima, mas o diálogo do segundo arquivo foi o seguinte:

 

“Ele vai se jogar”, diz a mulher. E um homem diz: “Passou, passou, matou”. E a passageira completa: “Matou, matou, meu Deus”.

 

“O tempo que esse pessoal ficou filmando, poderia ter descido do carro e ter feito algo. Porém, fizeram ao contrário: registraram essa calamidade para divulgar em grupos de WhatsApp. E eu pergunto: isso ajuda em quê? O motorista também poderia ter juntado outros caminhoneiros, tirado o rapaz da pista e segurá-lo até a polícia ou uma ambulância chegar”, comentou Ana.

 

Depressão não é frescura nem falta de Deus no coração: é doença e tem que ser tratada com apoio especializado - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

 

Consequências

 

O caminhoneiro que atropelou Alien poderá responder criminalmente pelos atos cometidos em Porto Velho.

 

“Ele queria seguir a viagem de qualquer forma. Poderia ter parado sim e tentado retirar o rapaz da pista com a ajuda de pessoas que estavam próximas. O movimento era intenso naquele momento. Existe a possibilidade dele ser indiciado por homicídio com dolo eventual, quando assumiu o risco do que poderia acontecer”, destacou um policial civil que está ligado à investigação do fato.

 

E quem faz tratamento contra a doença segue revoltado por nada ter sido feito naquele momento: “As pessoas preferem puxar o celular para ter curtidas, espalhar vídeos em grupos de WhatsApp, do que ter uma ação efetiva. Duvido que se fosse um familiar, pai, mãe, irmão filmariam. A gente vê sistematicamente na internet, em outros países, as pessoas tentando evitar os suicídios”, falou Bárbara.

 

Ela completa: “Já vi pessoas querendo pular de pontes ou se jogar na frente de veículos. Contudo, os motoristas param e vão lá conversar com a pessoa, para tentar evitar algo pior. Eu nunca vi algo desse tipo aqui em Rondônia ou no Brasil. Falta empatia sim, se colocar no lugar da pessoa ou da família que está passando por essa barra”.

 

João Pedro também alerta: “Às vezes um abraço, uma palavra amiga ou um bom dia salvam a vida de uma pessoa. Já vi vários relatos de pacientes que estavam prestes a tirar a própria vida e falaram que receberam atenção, foram ouvidas, desistiram daquele ato e foram procurar ajuda. Muitas vezes, o mínimo que você faz, já salva a vida dela e evita uma família de sofrer eternamente”.

 

Ana aproveita para tentar diminuir os preconceitos praticados por quem não enfrenta o problema: “Depressão não é frescura nem falta de Deus no coração. Depressão é doença e tem que ser tratada como tal, com acompanhamento de psicólogo, psiquiatra e uso de remédios, se necessário”, observou ela.

 

Inclusive, Alien Bruce participava de um grupo de teatro para tentar amenizar os impactos que a depressão causava em sua vida, conforme revelou um colega que atuava com ele em cena.

 

“Nossa equipe fazia diversas peças teatrais, entre elas, com temática religiosa. O Alien fez papel de Jesus Cristo em uma das nossas produções”, relembrou.

 

Em uma das suas últimas postagens no Instagram, no dia 13 de abril, Alien exaltou a oportunidade de interpretar um papel tão importante com a presença de seus familiares.

 

“Honrado e ainda extasiado por ter podido interpretar o maior Homem que já andou sobre a face da Terra. Sendo de uma família muito católica, pra mim teve um sabor especial poder recontar essa história diretamente para eles. Minha mãe, pôde ver o filho dela experienciando a vida de Jesus Cristo em primeira pessoa, das sandálias Dele”, comemorou ele à época.

 

Funcionário público municipal tentou buscar no teatro apoio necessário para tentar vencer doença, inclusive interpretou papel de Jesus Cristo - Foto: Reprodução/Instagram

 

Prevenção

 

Há também quem utilize as redes sociais para pedir ajuda ou fazer apelos. Para Ana Paula Diek, psicóloga clínica, esse comportamento para comunicar sobre o problema pode ser benéfico, porém há alternativas que funcionam para aprender a lidar da melhor forma possível.

 

A medida também ajuda a conectar o paciente com pessoas que também vivem isso e que muitas vezes acreditam estar sozinhas, com medo de não serem compreendidas ou desacreditadas.

 

“Acaba com a ideia de ‘ninguém mais tem isso, sou diferente’. Esse olhar para fora já diminui o impacto e a própria experiência do que está acontecendo com você”, afirma a psicóloga.

 

Para Carlos Correia, voluntário há 31 anos do CVV (Centro de Valorização da Vida), instituição filantrópica que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, ter uma pessoa ouvindo e falando sobre o tema mostra a fragilidade humana, que pode atingir a todos nós, até mesmo aquela pessoa que é famosa ou que tem dinheiro.

 

“Às vezes a pessoa vai se fechando tanto, que ela se desconecta com o mundo real, e a conversa pode ser um alívio de algo prestes a explodir. É preciso desmistificar a prevenção ao suicídio, temos que procurar ajuda, assim como quem sofre de dor de dente procura um dentista”, diz Correia.

 

Se você conhece alguém que tem pensamentos de tirar a própria vida, procure ajuda urgentemente; você pode ajudar a salvá-la - Foto: IStock/Getty Images

 

Explicando que existem muitas formas de ajudar quem está em sofrimento, o CVV lista algumas opções:

 

 - Se você acredita que alguém está em sofrimento, tente conversar com a pessoa, de preferência em um lugar tranquilo, sem pressa, perguntando como ela está se sentindo e tendo em mente que o foco da conversa é o outro;

 

- Evite falar muito sobre si mesmo, oferecer soluções simples e desmerecer o que ela sente;

 

- Tenha uma escuta ativa, que consiste em realmente ouvir e compreender o que a outra pessoa diz;

 

- Ofereça suporte emocional e informar sobre a necessidade de buscar um profissional.

 

Procure ajuda

 

Caso você tenha pensamentos suicidas ou conheça alguém que precisa de auxílio, o CVV (www.cvv.org.br) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade oferecem ajuda especializada.

 

O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.

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