A secretária municipal de Diretos Humanos da Administração Doria (SP), Eloísa Arruda, saiu nesta segunda-feira (16) em defesa do granulado feito a partir de
itens perto do vencimento como forma de acabar com a fome e o desperdício de alimentos na cidade de São Paulo. Segundo ela, o produto nada mais é do que um suplemento alimentar, assim como o whey protein (proteína do leite comumente usada por praticantes de musculação).
De acordo com Eloísa, a Prefeitura vai continuar fornecendo alimentos in natura à população. O granulado, batizado de “allimento”, seria, então, utilizado apenas nos casos mais críticos, em quadros de desnutrição. Para isso, conforme adiantou a secretária, o próximo passo da gestão Doria será mapear a população da capital em situação mais vulnerável.
“O rico tem direito a suplemento alimentar. O menino que faz ginástica, ele compra whey. Os idosos compram leite sênior. E pagam caro. O nosso objetivo é eventualmente aproveitar alimentos para transformá-los em suplementos alimentares para juntar com alimento in natura e fornecer à população”, disse ela.
Eloísa afirmou que o processamento dos alimentos próximo à data de validade é um exemplo de “boa prática” reconhecido internacionalmente. “A agência da ONU aprovou este alimento e o objetivo é que ele seja fornecido, não na forma de ração, como estão dizendo de forma absolutamente inverídica, mas para complementar a alimentação de pessoas de baixa renda”, explicou.
Segundo a secretária, o granulado poderá ser misturado às refeições ou servir de base para a produção de outros alimentos, como pães e biscoitos. O biscoito inclusive já é feito e distribuído em uma entidade assistencial na Bahia. "É dado em uma creche e as crianças adoram. Eu mesmo provei e gostei. É um biscoitinho sem gordura, natural, e que agrada o paladar", avaliou.
O granulado nutricional que a Prefeitura pretende distribuir à população necessitada será fabricado e doado pela empresa Plataforma Sinergia. Ela, porém, não tem fábrica em atividade e capacidade de produzir em escala, como revelou a rádio CBN.
O fato não preocupa a secretária Eloísa, que já revela planos de ampliar o projeto: "O objetivo é que a gente possa ter outras empresas".
Polêmica
Especialistas ouvidos divergem sobre a ideia da administração municipal. Parte deles faz ressalvas ou mesmo critica o uso do produto. De acordo com o Conselho Regional de Nutrição, o produto granulado de Doria fere o Direito Humano à Alimentação Adequada.
"Total desrespeito aos avanços obtidos nas últimas décadas no campo da segurança alimentar e no que tange as políticas públicas sobre as ações de combate à fome e desnutrição", disse a entidade em nota.
A Prefeitura rebateu. Segundo a gestão Doria, "o Conselho Regional de Nutrição está desinformando a população", já que a iniciativa, parte da recém-lançada Política Municipal de Erradicação da Fome, não prevê a distribuição do "allimento" de maneira generalizada.