Uma nova era na prevenção ao HIV está em curso. Com eficácia superior a 99,9% na prevenção da infecção por via sexual, o Lenacapavir desponta como o método mais promissor já testado contra o vírus e inaugura uma geração de PrEP injetável de longa duração, aplicada apenas duas vezes por ano.
Os resultados vêm de ensaios clínicos de fase 3 realizados com mais de 4,3 mil participantes — entre mulheres cis na África e populações-chave na América Latina, incluindo Brasil, Argentina, México e Peru, além de África do Sul, Tailândia e Estados Unidos. Em praticamente todos os grupos, o número de novas infecções foi zero.
Eficácia supera pílulas diárias
Publicados em revistas científicas de referência, os estudos mostraram que o Lenacapavir superou os principais esquemas orais diários, como o Truvada. As reduções relativas de risco chegam a:
Com esses números, especialistas têm se referido ao medicamento como uma “quase vacina” — devido ao nível excepcional de proteção e ao intervalo semestral entre as aplicações.
O que é PrEP
A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) é um método preventivo indicado para pessoas HIV negativas que se expõem a situações de risco. A medicação age como uma “barreira química” no organismo, impedindo que o vírus se estabeleça em caso de contato.
Atualmente, a PrEP é feita principalmente por meio de comprimidos diários. A versão injetável, porém, promete ampliar a adesão, especialmente entre pessoas que têm dificuldade de manter o uso contínuo das pílulas.
Caminho até o SUS
Com a eficácia comprovada e aprovações internacionais já em andamento, cresce a expectativa de incorporação do Lenacapavir a sistemas públicos de saúde — entre eles, o SUS, que é referência mundial na oferta gratuita da PrEP oral.
Para isso, o medicamento precisará passar por:
Especialistas afirmam que a PrEP semestral poderia alcançar populações que hoje permanecem fora da rede de cuidado contínuo e reduzir ainda mais as novas infecções no país.
Um avanço com impacto social
Além do benefício clínico, o Lenacapavir tem potencial para contribuir na redução do estigma que ainda envolve o HIV. A simples possibilidade de proteger-se com duas aplicações por ano pode transformar a relação das pessoas com os serviços de saúde e facilitar a expansão das políticas de prevenção.
Se confirmada sua incorporação no Brasil, a nova PrEP representará um dos maiores avanços em saúde pública desde a chegada do próprio tratamento antirretroviral.