PEDIDO: Jornalista diz: 'O que aconteceu comigo, pode acontecer com você''

João Paulo Prudêncio divulgou mais uma carta relatando que é inocente e vítima de injustiça

PEDIDO: Jornalista diz: 'O que aconteceu comigo, pode acontecer com você''

Foto: Divulgação

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No último domingo (27), o jornalista João Paulo Prudêncio, preso há quatro meses por ser suspeito da morte de Monalisa Gomes da Mata, de 24 anos, ocorrida em 06 de dezembro do ano passado.
 
De acordo com a Polícia Civil, João Paulo foi preso em flagrante com o amigo Thiago da Cunha Alves. O assassinato dela ocorreu em um apartamento, localizado no bairro Embratel, em Porto Velho. 
 
Monalisa era companheira de Thiago e a Polícia Militar registrou o caso como feminicídio. Na versão dos presos naquele dia, a vítima se matou.
 
Veja relato completo de João Paulo abaixo:
 
Confesso que nunca imaginei estar na condição atual ao qual me encontro, hoje, domingo, 27 de março de 2022, escrevo de dentro de uma cela do presidio Urso Branco, meu endereço atual é a cela J3, quadrado onde são “guardados” todos os presos custodiados por crimes contra a vida, na cidade de Porto Velho e seus distritos, além dos presos nas cidades de Itapuã do Oeste e Candeias do Jamari. 
 
Minha prisão, injusta, indevida e caluniosa está sob análise dos olhos do Poder Judiciário onde deposito minha confiança na plena luz da justiça. Porém, o que vou falar nessas linhas não é sobre a justiça que ansiosamente espero que caia sobre mim, mas sobre como funciona o sistema judiciário em Rondônia. 
 
Acredite, assim como grande parte das pessoas que estão lendo essas escritas, eu, mesmo sendo um jornalista bem informado, entendido das leis básicas e conhecedor de conceitos gerais, não fazia a menor ideia de como funcionava o sistema de justiça para aqueles que caem na “dependência da justiça”, assim como eu, qualquer pessoa pode estar no lugar e na hora errada e acabar sendo alvo de sugestões, deduções e convicções erradas de uma guarnição, que te prende, te atua de forma imediata, transformando toda sua vida, jogando ao chão tudo que você construiu, fez ou tentou fazer e autodestruir, preste atenção! 
 
E você irá entender como uma pessoa pode ser jogada em um presidio por mais de 100 (cem) dias sem efetivamente ter sido ouvida pela polícia investigativa, aguardando angustiosamente a oportunidade de ter uma audiência com o Poder Judiciário.
 
Fui preso na madrugada do dia 06 de dezembro de 2021, na ocasião atendi aos gritos de socorro de uma pessoa que me afirmava que sua “esposa” havia cometido tentativa de suicídio, prestei atendimento ao qual qualquer jornalista de campo que possui o conhecimento fazendo massagem cardíaca e respiração boca a boca faria, pedi ajuda aos vizinhos, liguei para a emergência, levei Monalisa no meu carro, tudo isso aos gritos ecoantes do marido dela que afirmava que ela estava viva.
 
Com Monalisa e seu marido dentro do carro, dirigi de forma desesperada até a unidade fixa do SAMU, localizada entre a Rua Venezuela e Avenida Pinheiro Machado, no Bairro Embratel. Lá, sai do carro e chamei por socorro, enquanto o marido dela seguidamente dizia ouvir ela respirar. 
 
Já dentro do SAMU vi de longe o médico se aproximar de forma calma e sem mostrar muita alteração emocional com o fato dramático à sua frente. Ele foi até o carro e sem tirar Monalisa de dentro do veículo constatou a sua morte. 
 
De forma rápida, viaturas policiais chegaram até o SAMU, foram até o apartamento do casal e lá prenderam o marido de Monalisa. Eu fiquei relatando aos policiais o que tinha ocorrido, não recebi voz de prisão, após os tramites no apartamento os PMs levaram o marido de Monalisa já preso na viatura, momento em que um dos policiais me disse acompanha a viatura no seu carro até a Central de Polícia para prestar o seu depoimento, em nenhum momento passou pela minha cabeça que seria preso, jamais imaginei que tamanha injustiça se abateria sobre a minha vida.
 
Já na Central de Polícia, os militares constataram através do histórico do marido de Monalisa que ela o havia denunciado alguns meses atrás por tentativa de estrangulamento. Após a confecção do Boletim de Ocorrência Policial, os PMs pediram que eu fosse até o local onde se encontrava os agentes de Polícia Civil, note-se, até esse momento eu não recebi voz de prisão, fui até a Central de Polícia dirigindo meu carro, (sem qualquer escolta). 
 
Retornando ao relato, fui de encontro aos policiais civis acreditando que falaria com o delegado de plantão, porém, de maneiro súbita e grosseira, fui algemado, tive de entregar meu celular e tirar minhas roupas na frente de todos, em seguida fui jogado no local chamado “chiqueiro” onde jamais havia colocado os meus pés.
 
Só consegui falar com o delegado 10 horas após ser jogado na cela da Central de Flagrantes, com a chegada dos meus advogados, tomei a ciência que havia sido preso “em flagrante” por crime de feminicídio. 
 
No final da noite fui levado para o presidio Urso Branco, ainda com a certeza de que Monalisa teria tentado tirar a própria vida, acreditando que tudo não passava de um mal-entendido e logo estaria livre. 
 
Porém, na manhã de terça-feira 7 de dezembro de 2021, fui levado para a audiência de custódia acreditando que seria ouvido pelo juiz, que ele entenderia que apenas prestei socorro, que ele veria meu histórico de vida sem nunca ter tido qualquer registro policial ou relato de violência, mas nada disso, audiência de custódia apenas trata-se de uma formalidade, onde o juiz não busca saber o que aconteceu para você estar preso, de forma fria, o juiz apenas pergunta “você foi agredido” e nada mais!
 
Retornei à cela do presidio e na mesma semana veio a bomba: Monalisa foi estrangulada, isso de acordo com dois médicos da Polícia Civil. Fiquei Atônito, sem entender, ao meu lado na cela estava o marido de Monalisa, que copiosamente chorava e afirmava em alto e bom tom que iria se matar enforcado. 
 
Em certo momento ele veio o meu lado e disse: “João Paulo, vou me matar e deixar uma carta dizendo que matei Monalisa e que você não tem nada a ver com isso”, de primeira achei que ele estivesse sob forte depressão por conta da perda, então avisei a todos da cela para terem cuidado com ele se vissem qualquer movimento dele que suspeitasse uma possível tentativa de suicídio, mas alguns presos que estavam na cela acharam esse relato estranho da parte do marido de Monalisa, e como dentro da cadeia o que você fez ai fora importa muito, eles passaram a questionar o marido de Monalisa sobre o que havia acontecido.
 
Duas semanas após a minha prisão, fui chamado por dois detentos que me falaram: “O Thiago confessou pra gente que matou a mulher dele e está te usando como escudo”, nesse momento me veio um sentimento de revolta, ódio, mas por outro lado um alivio por saber que poderia lutar para provar a aberração judiciária que estou sendo submetido. 
 
Frise bem se existe algo que um preso mais detesta do que ser preso pela justiça da luz, é ver alguém pagando pelo que não fez sob as trevas da injustiça.
 
Então cheguei aos detentos que ouviram a confissão e perguntei: “vocês falariam isso a justiça?” eles prontamente disseram: “sim”. Dois meses depois mais um detento me chamou e disse: “ele também me confessou que matou a Monalisa” há mais de 100 dias espero que a justiça ouça essas testemunhas, há mais de 100 dias sofro com humilhações, feridas pelo meu corpo e alma, saudade de quem eu amo, saudade do exercício pleno da minha profissão, saudade da minha honra, do meu caráter e dignidade que me foram tirados no dia 06 de dezembro de 2021.
 
Posso garantir que meus familiares, amigos e todas as mulheres que passaram pela minha vida sabem que jamais participaria, aceitaria ou cometeria algo tão nojento e covarde. Não convivia com Monalisa, mas sempre que tinha momentos de interação com ela sentia uma forte angústia, tristeza e medo vindo dela.
 
Infelizmente, aquilo que foi tirado de Monalisa não pode ser recuperado pela justiça, porém, aquilo que foi me tomado, sim! Nesta próxima quinta-feira (31), com mais de 120 dias preso no Urso Branco, terei a primeira oportunidade de ser ouvido por um juiz de forma integral, alguns dos detentos que ouviram a confissão do marido de Monalisa já receberam a liberdade ou foram transferidos. Eu, sigo preso, faminto por justiça, buscando reconstruir minha vida, que foi estilhaçada sem que qualquer prova fosse apresentada.
 
Por fim, deixo meu pedido de apoio a quem sabe da minha inocência. O João Paulo que todos conheciam morreu junto com Monalisa no dia 06 de dezembro. O sistema carcerário é capaz disso, ele muda a pessoa, altera sentimentos, mas minha humildade, paz, amor e respeito pela vida seguem inabalados.
 
Porto Velho, 27 de março de 2022.
Joao Paulo Prudêncio  – Jornalista – DRT 1138/RO

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