A mineração de Bitcoin tem se expandido na América do Sul, sendo um vetor estratégico para o desenvolvimento econômico e energético da região. Nações como Paraguai, Argentina e Brasil estão cada vez mais envolvidas na corrida pelo domínio dessa tecnologia, que promete redefinir o mercado financeiro, e também o modelo de consumo e geração de energia.
No Paraguai, a atividade de mineração de criptomoedas está sendo estimulada por políticas governamentais que favorecem a instalação de grandes fazendas de mineração. Segundo Eduardo Meyer, COO da FMI, a cada quinze dias, novos projetos são anunciados, adicionando dezenas de megawatts à capacidade de mineração na América Latina. O governo paraguaio, aproveitando-se do tratado de Itaipú, optou por vender energia excedente para essas operações de mineração, ao invés de fornecê-la ao Brasil. Isso mostra a rentabilidade superior desse mercado.
Uma lei aprovada recentemente pelo Senado do Paraguai busca criar um ambiente mais favorável para os mineradores de criptomoedas, estabelecendo uma estrutura tributária e regulatória específica para empresas que operam nesse setor. Essa legislação inclui isenções fiscais e a definição de preços especiais para a energia consumida pelos mineradores, tornando o Paraguai um local atraente para a instalação de grandes fazendas de mineração.
Além disso, a legislação paraguaia estabelece que as empresas de mineração devem informar seu consumo de energia à Administração Nacional de Eletricidade (ANDE), o que permite uma melhor gestão da energia disponível, essencial para a sustentabilidade dessa atividade no país. A lei também define que os mineradores pagarão uma tarifa de energia ligeiramente superior à industrial, visando equilibrar o consumo energético do setor com os demais setores industriais.
As criptomoedas estão cada vez mais integradas nos diversos setores da sociedade. Tanto no uso diário quanto como uma opção de investimentos. Muitos brasileiros estão buscando um guia de como comprar criptomoedas antes do lançamento, sendo um mercado em expansão no país. Em 2024, o Brasil é líder no mercado latino-americano de criptomoedas, com um grande aumento no volume de negociações que atingiu US$ 6 milhões até maio, com um crescimento de 30% em relação ao ano anterior.
Mas, contrastando com o Paraguai, o Brasil enfrenta dificuldades com a expansão da mineração de Bitcoin, principalmente devido ao alto custo energético. As soluções frequentemente passam por parcerias com geradores privados e a adoção de operações off-grid. Eduardo ressalta que o potencial de geração de energia a partir de biogás e biometano é enorme, possibilitando a viabilização de projetos off-grid e promovendo soluções ecológicas para a gasificação de resíduos.
Estudos destacam que a mineração de Bitcoin poderia destravar esse potencial ocioso na matriz energética do Brasil, gerando grandes receitas. Em 2023, por exemplo, a atividade foi estimada em gerar cerca de R$ 165 milhões, com expectativas de que essa receita aumente consideravelmente até 2026, graças à inclusão de minigeradores alimentados por energia solar. A tarifa de energia elétrica no Brasil está entre as mais caras do mundo, o que torna a mineração menos viável economicamente comparada a outros países com energia mais acessível.
Já na Argentina, a situação jurídica está se estabilizando, proporcionando um ambiente mais seguro para investimentos em mineração de Bitcoin. A região de Vaca Muerta, por exemplo, tornou-se um ponto importante para operações que utilizam o metano excedente de plantas de petróleo e gás. Não só mitigando o impacto ambiental, mas também gerando empregos e movimentando a economia local.
Empresas como a YPF Luz e Tecpetrol estão liderando esses esforços, utilizando o gás de flare, que normalmente seria desperdiçado, como uma fonte de energia para a mineração de criptomoedas. Isso representa um modelo de negócio sustentável que alinha a necessidade de energia para a mineração com uma solução ambiental, transformando um desafio ecológico em uma oportunidade econômica.
No entanto, apesar dos avanços, a América do Sul ainda enfrenta algumas barreiras, como burocracia excessiva, tributação complexa e corrupção, que podem desencorajar investimentos estrangeiros. Porém, segundo Eduardo, a mineração de Bitcoin pode oferecer soluções inovadoras para problemas antigos, como o excesso de energia e a gestão de resíduos, promovendo um desenvolvimento sustentável e inclusivo.
No entanto, o Brasil mostra sinais de melhoria, retornando ao ranking dos 25 países mais confiáveis para receber investimento estrangeiro em 2024, após um período fora dessa lista. A corrupção, em particular, tem sido um problema, afetando negativamente o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED). Estudos destacam que a corrupção pode deter investidores por aumentar os custos operacionais e o risco, afetando a confiança e a estabilidade necessárias para compromissos de longo prazo.